quinta-feira, 6 de outubro de 2011

TERENA


TERENA: 5000 ANOS DE HISTÓRIA

1) ORIGENS

Terena, uma das mais antigas povoações de Portugal. situa-se a 11 Km. a Sul do Alandroal, a 10 Km. a oeste do Guadiana, 10 Km. a Leste do Redondo, 29 Km. a norte de Reguengos de Monsaraz. Juromenha, outra antiga vila hoje integrada no Alandroal como a presente, dista 22 Km. em linha reta.
É notável a antiguidade desta antiga vila, sede de Concelho até meio do Século XIX. A região era habitada já por volta de 3000 a.C., pois, a cerca de 2 Km. a leste, na Ribeira de Lucefécit, encontramos o chamado "Castelo Velho", um recinto fortificado com 5000 anos. E, como se não bastasse, a 1 Km. a Noroeste de Terena, temos um outro recinto fortificado, o "Castelinho", datado de cerca de 1000 a.C..
Considerando que estamos numa região alentejana rica em megálitos, é-nos difícil afinal dizer em que remota data se produziu uma primeira ocupação humana na região da antiga vila.
Entre ouitras coisas, encontrou-se a 4 Km. ao norte da mesma um local de culto datando da época romana; nele foram recolhidas noventa lápides, na maioria hoje no Museu Arqueológico Nacional em Lisboa. A divindade alvo de culto era aliás pré-romana, e denominava-se "Endovélico" (talvez do céltico "Andevellicos", significando "muito bom"). Não muito longe, descobriu-se recentemente um local de culto mais primitivo, talvez o primeiro dedicado a tal dividande, "transferido" pelos romanos. No século XVI, existiam ainda no local do Templo Romano 96 colunas de mármore de Ordem Jónica, retiradas nesse século e no seguinte para decorar edifícios em Évora e Vila Viçosa. No local do antigo templo (séc. I ?), ergueu-se mais de mil anos depois uma ermida (São Miguel da Mota).
Uma primitiva Terena ter-se-á, quase certamente, erguido em redor ou próximo do Templo de Endovélico.É pouco claro o que lhe terá sucedido com as Invasões Bárbaras no início do Século V. Consta que no século VIII os muçulmanos a terão destruído, mas, por obra dos mesmos, surgiu um grande povoado na região chamado, tudo o indica, "Talanna". Se não ficava situado no local do antigo Templo Romano de Endovélico, não deveria ficar longe, mesmo porque tudo indica que o topónimo moderno (Terena) terá tido origem na designação árabe.

2) TERENA PORTUGUESA

Em 1262 Terena, decerto após destruiçôes resultantes da Reconquista, é (re)fundada, cristãmente, por D. Gil Martins (Reinado de D. Afonso III). O Foral dava-lhe quase toda a área meridional do actual Concelho do Alandroal. Terena deverá então ter sido edificada, ou reedificada, junto da Igreja da Boa Nova, recebendo o nome de Santa Maria de Terena.
O Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova, vulgo Igreja da Boa Nova, é referido já no Século XIII. A sua antiguidade poderá ser muito grande mesmo, podendo provavelmente tratar-se da cristianização de um culto muito, muito antigo mesmo. Todavia, a sua forma actual remete-nos arquitectonicamente para o século XIV, e ainda assim há sérias dúvidas. Talvez se esteja perante um edifício sucessivamente reconstruído e remodelado. Hoje, encontramo-nos perante um templo em forma de fortaleza, com ameias. Interiormente, alberga pinturas, e de cada lado do altar-mor estão sumptuosos tocheiros. O conjunto é gótico. Uma tradição diz ter sido construído no século XIV, mas, como há muitas dúvidas, tal só poderá estar parcialmente correcto.

3) O SÉCULO XVI

Terena recebe novo foral ( manuelino ) em 10 de Outubro de 1514. Contudo, fala-se então de uma povoação chamada São Pedro de Terena. Tudo indica que já no século XVI, portanto, Terena se terá "mudado" para a sua actual localização, quiçá por razões de salubridade. O Castelo, que parece datar do século XIII, e que portanto distava da aglomeração primitiva (sabe-se lá porquê...), terá talvez tido influência na mudança da povoação, da zona da Boa Nova, para o outeiro onde as muralhas protegeriam melhor as suas gentes.
Sendo uma praça fronteiriça, Terena teve uma História acidentada. O Castelo terá sido fundado, ou restaurado, por D.Dinis, sendo possível que tenha sido reforçado na época de D.João I. D.João II terá querido dar novo fôlego a Terena, restaurando uma vez mais o Castelo, que ainda sofreu acrescentamentos manuelinos. Datará dessa época (séculos XV-XVI) uma nova (?) Torre de Menagem, bem como uma barbacã.
No numeramento de 1527-1531, Terena surge como tendo cerca de 600 habitantes (800, no máximo). Nos seus arredores, o Alandroal tinha cerca de 1 100 habitantes, Juromenha 600, Vila Viçosa 3 000, Monsaráz 2 500, Borba 2 300, Olivença 4 000, Estremoz 3 200. As maiores cidades próximas eram Elvas (cerca de 7 000 habitantes) e Évora (entre 12 000 e 15 000).
No século XVI terão sido construídos os Paços do Concelho, a Misericórdia, a Torre do Relógio, e a já referida Torre de Menagem. Outros monumentos se destacam em Terena, como o Pelourinho renascentista, a Igreja Matriz, e a Rua Direita no seu conjunto, com portadas góticas, renascentistas, e barrocas, e ainda grades e chaminés típicas.

4) AS GUERRAS

Pouco se sabe sobre movimentações militares em redor de Terena em 1383-1385, ou nos anos seguintes. Já na Guerra da Restauração (1640-1668), a vila esteve em destaque. Por exemplo, em 1652 as tropas espanholas do Duque de S.Germánsaquearam os campos, recolhendo depois a Barcarrota, escapando-se apesar de perseguidas por tropas da mesma Terena e de Olivença. Tendo deixado, todavia, parte do saque na circunvalação externa da Praça espanhola, os portugueses recuperaram essa parte e levaram-na para Olivença, onde os lavradores de Terena foram recuperar os seus bens. Todavia,em 1656 ( noutro exemplo), Terena foi cenário de violentos combates, e num espaço de poucos dias foi ocupada por espanhóis e recuperada custosamente pelo exército português.
O Século XVIII viu um certo declínio. A sua economia foi enfraquecendo. Como se não bastasse, Terena foi uma das povoações alentejanas que mais danos sofreu com o terramoto de 1755. Não ficou destruída, claro, mas verificaram-se muitos estragos.

5) DECLÍNIO

A época pombalina não parece ter sido importante na região. A sua decadência prosseguiu, e, já no século XIX, a sua economia foi ainda mais abalada com o corte de ligações para além Guadiana depois de 1801, não tanto por ter ligações directas com a região de Olivença, ainda que algumas existissem, mas sim porque tinha laços com o Alandroal e com Juromenha, estas directamente afectadas, em especial esta última povoação.
Na primeira metade do século XIX, vários Concelhos com expressão reduzida acabaram por se unir em torno do que foi o único sobrevivente, o do Alandroal. Foram eles Juromenha, Ferreira de Capelins (um estranho Concelho de reduzida população, hoje Santo António de Capelins), Terena, e, obviamente, o próprio Alandroal. Tal junção de esforços não trouxe exactamente progresso ou benefícios sensíveis, como bem o sabem os seus actuais habitantes, ainda que houvesse períodos de alguma prosperidade.

6) O PRESENTE, COM INTERROGAÇÕES PARA O FUTURO

Terena deixou de ser sede de Concelho por volta de 1835, e, perdendo a atracção de polo administrativo, a sua população foi diminuindo. Para demonstrá-lo, temos os números da segunda metade do século XX: 1986 habitantes em 1950, 1081 em 1960, 1119 em 1970 (uma ligeira recuperação, logo contrariada)), um pouco mais de 600 em 1991 !
Continua a ser, todavia, extremamente recompensador percorrer a Vila de Terena, com os seus 5000 anos de História presentes um pouco por todo o lado, na área do antigo Concelho. Para além das casas (com destaque para a já citada Rua Direita) e monumentos, a subida ao Castelo, com as suas quatro torres semi-cilíndricas, e onde se podem observar três materiais em harmonia (granito, mármore, e ardósia), dá-nos um soberbo panorama, limitado, a Leste, pela Serra de Alôr ( ou Olôr, ou Lôr), e, a Noroeste, pela Serra de Ossa.
O que se poderá fazer para acudir a esta região, progressivamente abandonada, onde as pedras, carregadas de História, têm cada vez menos homens por companhia?
Estremoz, reformulação de 08 de Janeiro de 2006
Carlos Eduardo da Cruz Luna

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