quinta-feira, 22 de setembro de 2011

PASSATEMPO "LEMBRANDO O ALENTEJO"





ALENTEJANOS NO FACEBOOK - PASSATEMPO "LEMBRANDO O ALENTEJO"

Terminamos hoje a publicação dos trabalhos vencedores na modalidade: PROSA/CONTO.

Destacamos os nomes dos seguintes Amigos :

FERNANDO MÁXIMO - Título : LEMBRANÇAS DO ALENTEJO


MARIZEI - Título : SAUDADES ... OU TALVEZ NÃO


JOSÉ VICENTE - Título : ACONTECEU UMA VEZ ...


Aos Vencedores e restantes Participantes no Passatempo "LEMBRANDO O ALENTEJO" o Grupo ALENTEJANOS NO FACEBOOK envia uma saudação muito especial agradecendo a sua colaboração.

Esperamos ter contribuído com verdadeiros momentos de partilha de tanta beleza que o nosso Alentejo encerra.
Outros eventos serão criados na expectativa de que terão da vossa parte igual aceitação.

Bem hajam !

Luis Milhano.


SEGUE-SE A PUBLICAÇÃO DOS CONTOS PREMIADOS:


FERNANDO MÁXIMO - LEMBRANÇAS DO ALENTEJO


Passatempo “Lembrando o Alentejo”


Modalidade: PROSA/CONTO

Título: LEMBRANÇAS DO ALENTEJO

Naquela tarde de finais de Setembro, estava frio. Demasiado frio para um Outono que ainda havia pouco tempo tinha começado. Se no início do Outono era assim, como seria para o Inverno? Eram estes os pensamentos que preenchiam o cérebro de Mariana da Horta do Vale, enquanto puxava para cima dos joelhos a ponta de um xaile que teimosamente escorregava em direcção ao chão. Colocou as mãos sobre as rodas da sua cadeira, companheira inseparável desde que aquela maldita trombose a tolhera de movimentos. Olhou para o jardineiro do Lar de Nossa Senhora da Orada, que apanhava as folhas caídas dos plátanos. Este jardineiro, homem na casa dos quarenta e poucos anos, trabalhava de um modo desajeitado e algo molengão. Mariana olhou para ele e disse, entre dentes:

Ah! Se eu ainda fosse a Mariana da Horta do Vale...
Diga Ti Mariana...
Nada, Januário, nada. Estava para aqui a falar sozinha.
E aquele falar sozinha, era apenas o início de uma longa conversa que acabaria por manter com ela própria, em silêncio e sem saber por quantas horas. Cerrou os olhos e viu passar perante ela uma procissão de factos, acontecimentos, temas e situações que lhe fizeram recordar toda uma vida de estoicismo, de sacrifícios e de dedicação. Tudo era tão claro, tão visível que em situações mais queridas, quase roçava as raias da loucura. E via...

... A recordação levava-a até aos sete anos de idade. Via os pais, que Deus tenha lá no Céu, a trabalharem arduamente na horta, em momentos que deveriam estar a descansar, ali bem onde a planície se tornava mais generosa, junto ao poço da picota que, por Deus querer, tinha água todo o ano. Recordava os pais, e principalmente a mãe, trabalhadora de sol a sol na companhia do marido. Recordou o mano Chico que era o seu preferido já por ser aquele cuja idade mais se aproximava da sua, já pela comunhão de ideias que repartiam. No entanto também gostava dos outros sete.

Ainda menina, começaram a chamar-lhe Mariana da Horta do Vale, para a distinguirem de outras Marianas lá da terra. E então não é que parecia moda? Uma terra tão pequenina e com quatro Marianas! Ela, a da Horta do Vale por mor da horta do pai, lá no vale; a Mariana da Zefa; a Mariana do Júlio, e a Mariana Cigana. Mas Marianas à parte, o que neste momento lhe vinha à memória era ainda e sempre a sua mãe. Comeu o pão que o diabo amassou. Levantava-se sempre cedo, muito cedo, para acabar de fazer a comida para mais uma jornada de trabalho. Quando regressava tinha roupa para lavar, a casa para dar uma ajeitadela e mais, sempre mais do mesmo: trabalho das mulheres que nunca tem fim!

Mariana, a partir dos oito anos passou a ser sua companhia nas lides. Nunca teve bonecas para brincar, nem de trapo nem de papelão, nem qualquer outro brinquedo. Aprendeu com a mãe o que era e para que servia um “cocho”, soube o sabor repetitivo das comidas guardadas no tarro. Comeu muitas azeitonas com pão que no dizer da sua pobre mãe, “faziam os olhos bonitos”. Depois um lapso, uma falha de memória atirava-a já para os finais da sua adolescência.

... Mulher feita, olhos negros lindos, muito vivos, talvez fruto das azeitonas que a mãe lhe dera em pequenina. Ficara órfã bastante cedo e tal como os pais, também ela teve que lutar com quanta força tinha para sobreviver num mundo hostil, difícil e penoso, como foram os idos anos de quarenta. Vivia então com uma tia que, por desgraça dela não tinha tido filhos, e que adorava a Mariana. Esta era, para todos os efeitos, a filha que nunca tivera. Quanto aos pais lembra-se do quanto sofreram até morrem mirrados, secos como carapaus. Doenças aparentemente fáceis de curar na actualidade, não o eram então. Havia doenças contagiosas, ou como se dizia ao tempo, “pegajosas”. E foi com uma dessas doenças que os pais faleceram depois de muito penarem: o pai internado no Caramulo, e ela, a mãe, em casa. Mariana nunca chegou a saber se foi o pai que “pegou” a doença à mãe ou se foi a mãe que a “pegou” ao pai. Uma coisa era certa: faleceram demasiado cedo, numa altura que lhe faziam extrema falta, se é que alguma vez é cedo para se falecer por não fazer falta a ninguém.

Na plenitude dos seus dezanove anos, Mariana da Horta do Vale andava na menina dos olhos de todos os rapazes lá da aldeia. Olhos lindos, como vimos, seios erectos a quererem rebentar as blusas de chita que usualmente vestia, cabelo loirito a saltar para fora do lenço com que se tentava cobrir do calor em épocas de estio ou proteger do frio em épocas de resfriados. Por onde passava deixava os rapazes de cabeça à roda. O que teve mais sorte foi o Zé do Forno, que acabou por ser o seu companheiro, seu amigo, seu único namorado, seu marido. Lembrava-se como se tudo se tivesse passado ontem...

... o dia tinha nascido lindo. Um daqueles dias de Julho em que o sol ao nascer invade toda a planície alentejana, toda a campina, com um manto de oiro. Naquele dia de ceifa, Mariana tinha ficado na tarefa de cozinheira, tendo à sua responsabilidade nada mais, nada menos que dezoito panelas. É verdade que estava calor, mas quase todos precisavam de água quente para fazer a açorda, acompanhada ainda, e sempre, com as célebres azeitonas, ou para darem uma fervura na bóia de toucinho que haveria de acompanhar um côdea de pão. Estivera uns tempos de castigo, sem passar por cozinheira, por um motivo de que se lembra igualmente muito bem. O Manel das Figueiras era um capataz bastante duro, daquelas pessoas que não admitiam um deslize e que queriam sempre tudo a horas e muito certinho. Aconteceu que um dia, já muito próximo da hora do jantar, ao tentar chegar um tição para junto da panela do capataz, quis o destino ou o azar que a panela se entornasse. Aflição das aflições! Mariana sentiu-se perdida. Que fazer? Como se sair daquela situação? Apenas encontrou uma solução: deitou-lhe água fria na panela de ferro, mas a verdade é que a água já não aqueceu. Chegada a hora de preparar a açorda, o Manel das Figueiras, soprou várias vezes a sopa que iria servir para comprovar se os temperos estavam na medida. Não queria queimar-se. Mariana, meio encolhida, embora receosa, ria por dentro, pois sabia que a água pecava era por fria e não por quente. O resultado já ela esperava: levou uma descompostura na frente de todo o rancho e foi obrigada a fazer mais meia hora de jorna, durante oito dias e sem direito a salário, como é óbvio. Mas tudo passara e agora, volvidos alguns meses após aquele incidente, reassumira a sua condição de cozinheira. E em que dia o fez...

Zé do Forno, garboso com vinte anos, estava de serviço de aguadeiro.

... Mariana observava a enorme nuvem de pó que se elevava lá da eira e o barulho ensurdecedor vindo de onde se encontrava a máquina fixa de debulha. Era a única máquina daquelas redondezas. Dizia-se que a fábrica do Tramagal tinha começado havia poucos anos a fabricá-las e já o patrão Lopes, dos mais ricos daquela região alentejana, tinha uma ao seu serviço. Era esperto aquele Lopes. Depois de acabada a sua seara, o Patrão Lopes alugava a máquina a outros lavradores e ganhava assim dinheiro suficiente para as despesas que tinha com a sua própria ceifa e debulha. À medida que o pó subia no ar, Mariana parecia-lhe ver ainda os tempos em que o avô, lá na eira dele e com menos pó, utilizava os dois burros que tinha: especado bem no meio da eira ia obrigando os asininos a andarem à roda, em cima das espigas até as esboroarem, sempre sujeitos e controlados pelas arreatas. Depois havia que se limpar, separar a palha da semente. Aproveitava-se o vento de feição e atirava-se a semente e a palha ao ar com as pás feitas de madeira. O vento levava a palha e a semente ia-se amontoando, limpa. Mais tarde apareceram os trilhos, igualmente de tracção animal. Lembrava-se como gostava de se sentar neles e andar à roda, à roda…

…Após ter levado duas ou três rodadas de água, já bastante morna por mor do enorme calor que fazia, Zé do Forno dirigiu-se para junto do lume, onde a cozinheira Mariana ia atiçando as brasas, o que tornava ainda mais quente aquele pedaço de chão feito forno aquecido. Zé ia com a intenção primeira, supõe-se, de ver se era necessário levar mais água para as panelas da cozinheira. Era alto, negro, quase com pelagem de cigano, filho de boas famílias e trabalhador. De seu nem tinha os caminhos por onde andava. Tinha, isso sim, uma grande alegria de viver.

Ao vê-lo aproximar-se, de camisa arregaçada, desabotoada de modo a deixar vislumbrar um peito que arfava não só pelo calor mas pela emoção do momento, Mariana pensou ver nele um coração bom e aberto. Sentiu-se andar à roda, à roda como se estivesse no trilho do avô... Não esperava que as coisas se passassem tão depressa. Afinal ele era bem mais despachado do que ela podia pensar. As palavras foram poucas ou então ela já não as recordava muito bem. Já iam mais de sessenta anos. Sabia que ele lhe tinha dito que gostava dela, que se ela quisesse que namoraria com ela. Ah!, e que não vinha ali para gozar, porque o que tinha por ela era amor verdadeiro e não coisas de brincar! Isso, “coisas de brincar” tinha sido essa a frase que ele lhe dissera. Ruboresceu. Puxou o lenço um pouco mais para os olhos e olhou em volta, envergonhada. Parecia que o Zé tinha gritado com toda a força. Parecia que todo aquele bendito Alentejo tinha gritado em uníssono: “não são coisas de brincar, Mariana!”, e que o eco daquele grito ia avançando de monte em monte, de azinheira em azinheira, sempre em crescendo... sempre em crescendo… Mas não. Os outros andavam na azáfama constante da ceifa: enquanto os ceifeiros e ceifeiras, com os dedos devidamente protegidos pelos canudos, seguiam curvados e curvadas sobre a cintura, ceifando a eito umas três margens cada, (contrariamente ao que haviam feito no dia anterior, que tinham ceifado às tornas), os molheiros com os seus forcados lá continuavam a colocar os molhos de seara em cima dos carros de parelhas para levarem para a eira a seara cortada. Ali, a máquina debulhadora continuava a lançar o silvo do seu motor, alheia aos vários frascais que ia engolindo. Mariana olhava atónita, com as palavras do Zé a baterem-lhe mansamente na cabeça, e verificando que afinal ninguém se importava com ela, com o Zé e com aquele momento tão lindo que ali se vivia. Quisera dizer-lhe que sim, de imediato. Mas não podia. Não era uma rameira que se entregasse a um qualquer e de qualquer modo. O calor exagerado que lhe havia subido às faces diluiu-se um pouco mais, respirou fundo e disse quase imperceptivelmente:

Dá-me um tempo para pensar, Zé...
Tens o tempo que precisares, mas não demores muito Mariana, está bem?
Quisera não demorar nada. Mas não podia ser. Mariana era uma mulher do Alentejo e tinha que manter aquela firmeza própria adquirida pelo facto de ser mulher do Alentejo. Mas a sua vontade era outra. Era lançar-se nos braços do Zé, apertá-lo e dizer-lhe baixinho que também gostava dele. Tinha que ser “gostava dele”, porque dizer-lhe que o amava, isso não era capaz. Envergonhava-se. Ela não era, não tinha nada a ver com aquela “ratinha” vinda lá das Beiras que havia pouco tempo tinha feito uma declaração demasiado acalorada ao seu mano Chico, num bailarico que meteu cante a despique. E ainda sabia a picardia e os versos que então soaram na quadra do Tónho Abaladiço, por alturas do Carnaval. Dissera ela, desavergonhada, que foi quem começou: “Quando chegas, nasce o sol/Quando te vais, desce a lua, / Se tu fosses um lençol/Eu dormia toda nua!”

Sem vergonha! Atiradiça! Mas o mano Chico não era rapaz para ficar calado, tinha a resposta na ponta da língua e sem gaguejar respondeu-lhe de imediato: “Mas se eu fosse um lençol/Branquinho como a geada /Se não tivesses um cachecol/Morrias toda gelada!”

Os bailaricos não eram só pelo Carnaval ou por alturas de festas, ou pelas sortes. Apesar do serviço árduo, era raro o dia em que no pequeno intervalo do almoço, não se alisavam umas seis ou sete margens e fazia-se ali mesmo um bailarico, com modas à desgarrada, saias, ou com toque de harmónica quando o Manel da Zorra levava a sua gaita e estava bem-disposto. Depois daquele dia, em que Mariana ficara de cozinheira e o Zé aguadeiro, era certo e sabido que o par estava garantido. As pessoas notaram, as pessoas cochicharam e coisa curiosa... Mariana relembrava que naquele baile da pinhata, ela e o Zé tinham ficado reis do baile. Tiveram que dançar sozinhos, com as coroas de rei e rainha nas cabeças, acanhados por se exporem assim perante toda aquela gente que os via rodopiar uma valsa. O Zé parecia que voava, enquanto a Mariana deslizava sobre o adro. E no outro dia soube-se na aldeia que realmente o Zé voou com a Mariana que deslizou para junto dele...

... Mariana da Horta do Vale corou, mas o jardineiro Januário, não viu. Andava entretido a varrer as folhas dos plátanos. Mariana corou por todas as peripécias que se passaram nessa noite. Desculpem lá, mas isso não vem agora aqui para a nossa história...

Mariana, Mariana, não soubeste aproveitar toda a felicidade que o Zé te deu! Deixaste-la passar como se fosse possível agarrar no dia seguinte aquilo que de bom deitámos fora no dia anterior, ia pensando com os seus botões. E á sua frente continuava o filme da sua vida. Coisa esquisita: à medida que os factos se tornavam mais recentes, menos nítidos eles eram, estavam “nublados”, parecia que a fita estava riscada, como riscadas estavam por vezes as músicas que se lembrava de ouvir no programa de Discos Pedidos do Rádio Badajoz: “Atenção Alandroal – Mina do Bugalho – para a Senhora Mariana da Horta do Vale, no dia de “su cumple años”, com muitos beijos de parabéns de “su” marido a trabalhar no monte do Chapim. Vamos transmitir «O Amor de Pai» na voz de Manuel Dias”. Depois de mais meia dúzia de dedicatórias para outros aniversariantes lá vinha «O Amor de Pai» que ela tanto gostava de ouvir. Por isso seu marido lho dedicava. Ela considerava aquela canção um agradecimento a seu pai pelo que fez por ela e ao seu marido pelo que fazia pelos filhos. Melhor que «O Amor de Pai», só «O Xaile de Minha Mãe», naturalmente...
Os pais do Zé aceitaram-na bem e ela tudo fez para merecer essa amizade e retribuía-lhe com trabalho, dedicação e carinho. Quatro anos após ter casado nasceu-lhe o primeiro filho. Nascera ao anoitecer e a vizinhança apercebeu-se que algo se estava a passar na casa da Mariana. A Maria Bexigosa andava num corrupio de entra e sai da casa da Mariana que tinha de ver. Certamente que a sua missão naquela casa era a de parteira pois não havia razões aparentes para ela ali se dirigir para fazer qualquer reza com bruxedos, sua segunda profissão, sabendo-se como se sabia até, que o Zé do Forno não era dado a essas “mariquices”. Aliás, a bacia com água ensanguentada que a Bexigosa atirara fora não deixava dúvidas a ninguém. Os vizinhos não sabiam o que era mas que tinham gente nova na aldeia, tinham! E era um rapaz, um homem. Fizera as delícias do pai, que quando se referia a ele na taberna ou quando lhe perguntavam se era menino ou menina dizia:

O que está lá em casa, mija de pé!
Bruto! respondia-lhe por vezes a Mariana, mas desculpando-o e compreendendo a alegria dele por ter um filho varão. Não tiveram mais filhos. Seguiram-se mais três meninas, mas parece que o destino estava mal fadado para o rapaz, José Fernando Alves Morgado. José e Morgado da parte do pai, Fernando que era o nome do pai da Mariana e Alves que era o seu apelido de solteira. Não sabia bem porque é que o rapaz não ficou nem “do Forno”, nem “da Horta do Vale”, mas sabia bem porque é que lhe chamavam simplesmente “O Mija de Pé!...”
O cérebro da Mariana, com quase oitenta e quatro anos feitos (ou seriam oitenta e cinco?) já não é o que era. Salta muito de acontecimento para acontecimento. Agora só já relembra as partes mais marcantes.

... estava-se no ano de 1963 e o seu Zé Fernando tinha ido às inspecções. Nem era necessário ter lá ido. Já se sabia que naquela altura até os coxos e os parvos, que Deus me perdoe, eram chamados para a tropa. O seu sofrimento começava agora. Nada, nem as ceifas, nem as sedes passadas, nem a fome, nem o medo do capataz Manel das Figueiras ou o medo da Guarda Republicana, quando lhe vigiava a porta por causa do seu Zé do Forno, nada se assemelhava à angústia que esta mulher Alentejana começava agora a sentir...

... Foi num barco, Uíge de seu nome, que em meados do mês de Novembro de 1964, o Zé Fernando embarcou para Angola, descolando do Cais das Colunas, O barco afastava-se, os lenços brancos dos que ficavam pareciam-lhe enormes enquanto os lenços brancos dos que partiam se iam tornando cada vez mais pequenos, mais pequenos, até se confundirem numa só imagem ténue, branca, clara… nada. Quase ia desmaiando quando se perdeu o fumo do Uíge, lá no alto mar. O marido segurara-a. Não caiu. O marido, aqui como em tantas outras ocasiões estivera sempre ao lado dela. Não a deixava cair, o seu Zé do Forno!

O filho escrevia-lhe amiudadas vezes. Às cartas chamavam-lhe “aerogramas” e chegavam com uma média de um por semana. Não sabia ler, mas as filhas liam-lhos.

Todos os dias ouvia a Emissora Nacional, onde o Ferreira da Costa dava conta da situação de vários colegas do filho. Muitos falavam directamente: “Queridos pais, namorada e madrinha de guerra em Ferreira do Alentejo... em breve espero abraçar-vos”; outros não falavam mas ele, Ferreira da Costa, dizia: “Aqui Luanda, o soldado Fulano Tal encontra-se bem algures em Angola”. O seu filho nunca falou nem nunca foi do conhecimento do Sr. Ferreira da Costa.

Novo salto no filme de Mariana, como se de repente se partisse a fita e fosse apanhar as histórias, verdadeiras como é óbvio, um pouco mais à frente ou um pouco mais atrás, a modos que baralhadas. Outras vezes o salto no filme da vida era mais curto, entrecortado, como se houvesse uma falha de electricidade de alguns segundos somente. Mariana agora já não andava nas mondas, já não dançava nas margens. Mas estava baralhada na cronologia.

…O ano de 1965 fora um ano terrivelmente farto de água. Já não se lembrava de quantos meses choveu a fio. Sabia apenas que tinham sido muitos e com grande intensidade. Como sempre, o marido tinha ido dar uma volta com o gado, aproveitando uma estiada que o tempo oferecia, naquele fim de tarde. Conhecia os terrenos que pisava como a palma das suas mãos. Conhecia os chaparros todos da campina alentejana e assim, o Zé do Forno, passou o regato e foi para o lado de lá. Sabia que o Tonho Sapo iria lá ter consigo por causa da greve dos trabalhadores rurais, para combinarem coisas, estabelecerem estratégias. Zé do Forno não voltou. Mariana não dormiu; nessa noite. Chamou pelo marido. Procurou-o por onde pôde com o lampião de petróleo. No outro dia, lembrou-se de ir mais as filhas ao posto da GNR perguntar pelo marido. Às vezes os Guardas sabem coisas que as outras pessoas não sabem e podia ser que eles soubessem dar-lhe alguma notícia. Obteve como resposta:

O seu marido está bem, Mariana. Está “dentro” mais o Tonho Sapo, para não se andarem a meter onde não devem. Qualquer dia tem notícias dele, Ti Mariana.
Afinal o marido não voltara porque tinha sido preso. O seu coração sabia que algo de mau um dia poderia acontecer. Por vezes, já noite dentro, via-o com a telefonia agarrada aos ouvidos. Quando lhe perguntava o que ouvia quase sempre lhe respondia que estava a ouvir a Rádio de Argel, em onda curta, e a saber notícias de Portugal através do Manuel Alegre. Coisa esquisita para ela: saber notícias de Portugal através de uma rádio da Argélia? Agora, naquele momento, sentiu-se desfalecer, agarrou-se às filhas a chorar e voltou para casa. Os dias passaram, enormes, enormes e vazios. Não havia notícias. As únicas notícias que chegavam, eram do filho que dizia que já contava os meses para regressar a casa. Quantas vezes teve que esperar que as folhas das cartas secassem das lágrimas que nelas caíam ao enche-las de beijos depois da filha as escrever, para que ele não se apercebesse que a mãe chorava, e do motivo porque chorava. O filho enquanto ela pudesse evitar, não saberia nada da situação do pai. Vestiu-se de negro, do mais negro possível, mas nunca tão negro como o seu coração se vestira. Começou a sentir-se revoltada, contra tudo e contra todos.

Quis o destino, o destino mau, ruim, que certa vez, quando iam para começar a escrever mais um aerograma para Angola, chegasse o comandante da secção da GNR, homem alto, de bigode farfalhudo, com ar insensível e com uma carta, tipo telegrama, que lhes disse:

Está aqui uma carta da PIDE. Querem que a leia?
Não é preciso, obrigado, as minhas filhas sabem ler… não, não…olhe leia o senhor que tem mais prática... atrapalhada, ansiosa, Mariana não sabia o que queria. Apenas queria que lhe lessem depressa o que aquela carta dizia.
E o comandante da Secção da GNR, de bigode farfalhudo, insensível, frio, duro e mau leu: “Informamos que faleceu na cadeia do forte de Caxias, José...”

Não ouviu mais nada porque desmaiou. O seu Zé já não estava ali para a segurar, para não a deixar cair, desamparada. E não quer recordar esse momento tão duro, esse momento em que foi posta mais uma vez à prova toda a valentia da mulher do Alentejo. Não quer recordar e não é por causa de se ter partido a tal fita do filme que tem estado a visionar. Não, não é por isso. É pura e simplesmente porque não quer. Revolta-a, toda a impotência que sentiu por não poder fazer voltar até ela, vivo, o seu marido, único amor, único amante...

... em 1974 já o filho era um destacado membro do Partido Comunista, na clandestinidade.

A 25 de Abril de 1974 ia a família Alves Morgado à entrada do cemitério para prestar mais uma homenagem ao Zé do Forno, pela passagem do sétimo aniversário do seu falecimento, quando o Vasco Tonto, que andava sempre com uma telefonia pequenina a pilhas para ouvir os relatos do Benfica, disse:

Houve uma revolução! Os soldados derrubaram o governo! Disse aqui no rádio!
Mariana, o filho e a nora, as filhas e os genros, chamaram o Vasco Tonto e ouviram em primeira mão, a notícia da Revolução dos cravos ali bem junto da campa do Zé do Forno, como que a quererem-lhe dizer que o seu sacrifício não fôra em vão, e que tudo estava vingado... no ar soava agora a “Grândola Vila Morena”, num rádio que precisava de pilhas novas mas onde uma voz bem timbrada anunciava: “aqui posto de Comando do Movimento das Forças Armadas...”.

... E vieram os políticos dizer que estava tudo calmo, e veio o Movimento das Forças Armadas dar aulas para quem quisesse aprender a ler e escrever. Mariana foi e aprendeu a escrever. A primeira coisa que aprendeu, por sua exigência, foi a escrever: José do Forno. Não era esse o nome verdadeiro, mas era esse o Zé que ela sempre amara. E sempre com ele na lembrança, recordou bocados muito ruins mas há um, muito bom, que a enche de vaidade incontida: foi no dia em que, puxando um baraço, descobriu uma placa que dava o nome de “José Morgado – lutador antifascista, preso e assassinado pela PIDE” a uma rua da sua aldeia, perdida aí num qualquer pedaço deste Alentejo profundo e esquecido. Nessa altura, o que raramente acontecia, sentiu-se feliz, muito feliz por recordar, até porque não era uma rua qualquer, era a rua onde ela ainda morava e onde eles tinham morado. A mulher do Alentejo também tem que ter motivos para ser feliz!

...1998, mais recente, menos nítido o filme da vida. Sabe que estava a ver uma telenovela na casa de uma das suas filhas, quando começou a sentir a mão, o braço e a perna esquerda dormentes, a língua encortiçada, a vista a “empaniar-se” e com dificuldade em mexer-se. A boca ao lado não a deixava pronunciar palavra perceptível. A neta mais velha, olhou para ela e, apavorada, gritou:

Mãe! A avó está a morrer...
Mas não estava. Foi transportada para o Centro de Saúde, que por sorte ainda fechava à meia-noite, e depois para o Hospital Distrital. Fizeram-lhe exames, e ao fim de nove dias disseram-lhe que ali, já nada mais podiam fazer por ela, que o que estava ali a fazer poderia ser feito em casa e sempre dava o lugar a alguém que estivesse mais necessitado. Compreendeu.

Agora, havia cerca de quinze dias que vagara um lugar ali no Lar de Nossa Senhora da Orada e aproveitou a oportunidade para ali ser admitida como utente. Os filhos trabalhavam e não podiam cuidar dela. Melhorara bastante, mesmo assim. Falava pouco mas pensava muito. Ninguém nos consegue cortar o pensamento, graças a Deus!

Olhou para o Januário e teimou:

Ah! Se eu ainda fosse a Mariana da Horta do Vale...
Januário, já não a ouviu e Mariana quis agora relembrar os momentos bons da vida que, por serem tão poucos mais depressa relembraria: o casamento dos filhos, o nascimento dos netos, os seus primeiros empregos, os estudos da neta mais velha que chegara a Engenheira Civil... Mas adormeceu debaixo daquele fiozinho de sol de Outono envergonhado e acabou por não recordar nada do bom da sua vida.

Vamos lá D. Mariana, temos que ir jantar, disse a encarregada enquanto empurrava a cadeira de rodas em direcção ao interior do Lar. Não pode ser só dormir, olhe que ainda apodrece de tanto dormir! E arrematava: vossemecê tem mesmo cara de ter sido uma valente mulher do nosso Alentejo!
Os olhos de Mariana humedeceram-se, prenhes de uma mistura toda feita de saudade, vaidade, raiva e tristeza. Que sentimentos contraditórios assolavam aquela mulher que ainda agora adormecera e já estava a ser apelidada de dorminhoca. Ingratos!

Apercebia-se perfeitamente que não visionara nem uma milésima parte do filme da vida. Mas agora tinha que suspender a sessão, na certeza porém que voltaria a ela, em curto espaço de tempo.

Não tinha fome!

Autor: FERNANDO MÁXIMO/AVIS

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MARIZEI - SAUDADES ... OU TALVEZ NÃO.


Passatempo “Lembrando o Alentejo”


Modalidade: PROSA/CONTO


Título : SAUDADES... OU TALVEZ NÃO.



Tenho Saudades de quando era pequena preta (queimada do sol) e magra.

Sou alentejana de raça pura porque os pais também o eram, nasci na aldeia no chão daquele quarto escuro de terra batida, á hora do almoço já tinham mais uma boca aos berros a pedir comer.Sou duma fasquia de três já adultos que não precisavam de ser contemplados com a laranja de Agosto (assim me chamavam), porque a mãe já tinha quarenta anos quando nasci. Criaram-me aos abanões, mas era muito rica tinha tudo o que ambicionava/desejava era feliz e cantava ... cantava as modas alentejanas . Tudo era meu no Alentejo o meu pai,mãe, mano, mana, tios tias primos primas, vizinhas comadres, amigas, amigos, o burro o gato a casa as terras os animais as árvores.

Tenho saudades:
Da casa, do quintal, das brincadeiras imagináveis do cheiro da terra, das caminhadas para a horta, dos rastos das pessoas na estrada de terra (que eu tentava descobrir a quem pertenciam aqueles rastos deixados no pó), do calor na estrada de alcatrão provocando miragens de água e moiras encantadas ( contos da mãe), do tempo em que brigava com a mana para ir á fonte buscar água nos cântaros e partir lenha pró lume que o jantar esperava. da chegada da noite para ver o pai ao longe de chapéu preto de abas largas em cima do burro, trazendo contos, passagens ou lengas-lengas para me contar. da chegada da mãe a ralhar para ir fazer os trabalhos destinados que eram o normal do dia ir á mercearia comprar fiado, uma latinha (1/4 de litro) de petróleo para o candeeiro, e uma quarta(250g) de sabão, ou de açúcar, ou uma quarta de carne esfoladiça para fazer as couves com carne.

Dos homens á porta em fila a pedir trabalho ao pai, que era manajeiro na casa da lavradoura. Dos ranchos de raparigas e mulheres(todas minhas parentes tias,primas vizinhas ,comadres, amigas) a cantar nos trabalhos e com roupas alegres vestidas. Dos ranchos de rapazes de olhos bonitos e homens (todos eram meus tios primos parentes amigos vizinhos) de chapéus e boinas e safões e botas cardadas.Lá em casa havia a despensa cheia de favas grão feijão alfarroba, ervilhas tremoços, cevada, trigo, aveia, abóboras, cebolas, batatas, pimentos, na horta frutas e verduras e até amendoins que a mãe semeava tudo. Havia uma lata cheia de tostões e descobri no livro da mãe uma nota de vinte escudos. Quando o pai colhia a seara ia vender o trigo e antes de pagar as dívidas ia-me mostrar uma nota de quinhentos escudos para eu a conhecer. Eu era rica e o Alentejo era meu.

Depois cresci ... e havia um rapaz de olhos bonitos....

Fiz a primária e os pais decidiram o meu futuro, (arranjar trabalho á sombra e ao abrigo da chuva) metendo-me na camionete de carreira para a cidade mais próxima. Parti com a malita cheia da distância e ausência dos meus pertences. Arranjei trabalho num primeiro andar, lembro que nos primeiros dias , mesmo com as janelas abertas tinha que descer as escadas e abrir a porta da rua para vir respirar.Faltava-me o chão, o cheiro da terra, das árvores, dos meus pertences,. Ali tudo era desconhecido e feio. Morava na casa dos outros(era uma hospede) ,na terra dos outros, não via nenhum rosto conhecido, ninguém me chamava pelo nome, não me cumprimentavam na rua, não conhecia os caminhos.Os meses e anos passaram aprendi muita coisa e outras línguas, mas cresci zangada e revoltada, porque para as pessoas da aldeia eu sou da cidade, e para as pessoas da cidade eu sou aldeona.

Agora sou grande branca e gorda.
Mudei de trabalho de cidade de nome (porque casei).
O que sou hoje'''' quem eu queria ser'''' o que tenho saudades/lembranças'''''

Digo que sou rural, sinto-me rural gosto da estrada de terra, mas não gosto de comer o pó.Gosto de apanhar amoras, mas não das picadelas das silvas.Gosto de nozes, mas não das mãos pretas das descascar.
Gosto muito dos Alentejanos de chapéu e boina e botas cardadas das quadras bonitas e cantigas e anedotas que fazem; da cozinha da vaidade e nostalgia das mulheres e das cores vivas vestidas, da paisagem da terra arada, dos matos a crescer em liberdade, das flores cheiros cores.

Tenho saudades do Alentejo ( ou talvez não''''') porque nos campos só vejo bois por todo o lado ( eu tenho medo dos bois). Não há searas cultivadas; Não há maquinaria agrícola a trabalhar; Não há ranchos de raparigas e mulheres(todas minhas parentes tias, primas vizinhas ,comadres, amigas) a cantar nos trabalhos e com roupas alegres vestidas os rapazes de olhos bonitos (emigraram); Não há ranchos de homens meu pai ,mano, tios primos parentes amigos vizinhos de chapéus e boinas e safões e botas cardadas a trabalharem.

Vejo as pessoas a ir trabalhar nas cidades cada um em seu carro, para limparem as sujidades dos senhores. eu digo porque sei.( cheira mais mal a sujidade fechada do que a bosta ao ar livre)
Vejo os canais feitos para a água da barragem, mas nada verdeja á sua volta. Se calhar eu não vejo bem''' será da idade ou das lembranças do meu Alentejo .


AUTOR - Marizei


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JOSÉ VICENTE - ACONTECEU UMA VEZ ...


Passatempo “Lembrando o Alentejo”


Modalidade: PROSA/CONTO


Título : ACONTECEU UMA VEZ ...


Aconteceu uma vez…


Aconteceu uma vez...ou foram duas ou três? Passou o tempo e não recordo com precisão a última vez que vi Maria colher um malmequer. Maria corava sempre que um rapaz lhe assobiava, ou dava um piropo, Vi acontecer uma vez...ou foram duas ou três? Éramos ambos pré-adolescentes a viver numa aldeia alentejana perto de Beja, Maria tinha por hábito correr pela planície e colher malmequeres que punha no cabelo ruivo como se fosse uma jarra de cristal luzindo naquele pôr-do-sol dos seus cabelos. Por vezes confundia as espigas de trigo com ela, tal a sua beleza.
Parti da aldeia para estudar em Lisboa, na bagagem trouxe pouco mais que o coração apertado e a imagem de Maria com o malmequer no cabelo. Ainda hoje e já se passaram trinta anos, rego com a saudade essas flores que trago na lembrança. Assim as preservo, preservando Maria.
Adoptei Lisboa sem traumas emocionais, vim e fiquei. Regressava nas férias grandes e no Natal. Via sempre a Maria.
Sei que não estudou, ficou a viver com a mãe e dois irmãos mais novos. O pai morreu soterrado em copos de vinho tinto numa das muitas tabernas onde era conhecido como o “Barril”. Ainda hoje imagino o seu caixão, só podia ter a forma de barril, não sei, não fui ao funeral. Essas coisas não se contam às crianças. Crianças adivinham, imaginam.
Não, não vou escrever da Maria-criança, ela não iria gostar que soubessem como foi amarga.
Sei que os únicos brinquedos que teve foram os malmequeres que partilhava com a natureza embelezando-se, embelezando-a com os seus cabelos ruivos ondulando ao ritmo da eira.
Um dia, já adulto, regressei à aldeia por causa de umas partilhas e não vi a Maria. Fui à planície e encontrei a aridez, os malmequeres tinham desaparecido daquela terra de luto.
Perguntei aos irmãos por Maria:
- Partiu depois do funeral da nossa mãe. Saiu do cemitério, foi ao campo, pôs um malmequer no cabelo e ninguém mais a viu desde esse dia.
Assim saí da vida de Maria, da planície e dos malmequeres. A aldeia ficou mais pobre o Alentejo mais longe.
Lisboa ficou a ser a cidade sem endereço, deambulava pelas ruas sem olhar e se olhava não via. Nem edifícios, nem pessoas. Era mais um entre um milhão de isolados que sobrevivia entre o caótico e a indiferença.
Um dia passava eu pelo Politécnico e olhei, mais por curiosidade que por interesse, para uma paragem de autocarro e surpreso vi um malmequer sentado no banco. Era a Maria. Tinha feito a viagem da aldeia para Lisboa apenas com o malmequer e o corpo. Um corpo ainda vivo, tão vivo que o aluga (não o vende) em paragens de autocarro sem sinalização de destino. O seu foi procurá-lo ao passado.
Sentada no banco esperava que os condutores não lhe perguntassem pela sua paragem da vergonha. Ela estava lá, na forma de um corpo utilizado e de um malmequer que lhe recorda o quanto tem ainda de pureza. Há coisas que não se alugam e muito menos se vendem.
Passei uma, duas, três vezes com o carro sem coragem para me aproximar. A minha máscara de homem forte dilui-se em memórias de infância e chorei. Lágrimas de uma paixão nunca declarada. Entre as lágrimas revi a paisagem alentejana e parei, já não era Lisboa, era o reinventar da planície. Maria aproximou-se do carro, debruçou-se na janela, olhou para mim e com o olhar doce que sempre conheci exclamou:
- Pedro!
Eu balbuciei:
-Maria…
-Pedro, contigo não! Contigo só vai a minha memória que está algures entre a infância descrente e a adolescência crente na mentira.
Serenamente tirou o malmequer do cabelo e plantou-o no meu.
- Vai e não voltes! Disse.
Voltei uma, duas, três…muitas vezes e não a vi. Sempre que volto deixo nesse banco, dessa paragem de autocarro um malmequer, para quem parte faça uma boa viagem até ao destino, até à vida!

AUTOR - JOSÉ VICENTE










MODALIDADE - POESIA

O Passatempo "LEMBRANDO O ALENTEJO" criado pelo nosso Grupo já antes informou dos vencedores nas modalidades:
PINTURA - FOTOGRAFIA - VÍDEO - ARTIGO DE OPINIÃO

Hoje iremos dar a conhecer os vencedores da modalidade - POESIA.

Foram muitos os trabalhos enviados o que dificultou (e ainda bem) a análise do Júri. Também provou que somos um País de Poetas...

Agradecemos penhoradamente, num misto de satisfação e orgulho, a enorme participação prestada a este Passatempo enviando a todos uma fraterna saudação.

Luis Milhano.

Destacámos os seguintes Amigos na modalidade - POESIA:

JOAQUIN ISQUEIRO - ADIAFA ADIADA

RITA CARRAPATO - CANTO O ALENTEJO EM SAUDADES

MARIA JOÃO BRITO DE SOUSA - ALENTEJO


Premiámos ainda nesta modalidade um trabalho muito personalizado:

FERNANDO MAXIMO - AVIS É ALENTEJO


Iremos tentar colocar todos estes trabalhos na sequência do anunciado. Se não for possível devido a condicionalismos do Facebook publicaremos logo de seguida em nome individual.


“ ADIAFA ADIADA “


Grita o montado chora o azinho,
De ti ausente, tolhe-me a mágoa,
Num céu sem nuvens, enxuto de água,
Quando te deixo, dói-me o caminho.

Vão-se-me os olhos pelas lavradas,
Sulcos abertos, terra carente,
No chão padrasto cai a semente,
Arde o restolho pelas queimadas.

Sob o sol ímpio, bebes suor,
Lento rebanho pastando esperança,
Que é do tamanho da confiança,
Nos olhos negros do seu pastor.

Encolhe a sombra pelo meio-dia,
O tempo para no seio do acarro,
E o pastor sente, com o chaparro,
Dentro do peito, melancolia.

A calma acende o meu desejo,
Abre a papoila, cheira a anis ,
Resiste a esteva em seu verniz,
Junto aos loendros, espiga o poejo.

Terra sem dono, bom Alentejo,
Luta de azinho, paz de oliveiras,
Aberta à vida nas sementeiras,
Pela adiafa , espera o ensejo .


Joaquin Isqueiro




CANTO O ALENTEJO EM SAUDADES

Era ontem esteira de searas
prodigioso leito
onde os astros se deleitavam.
O sol impunha-se, bramia
e crestava-lhes as espigas.
Incendiadas pelo fogo soprado
entregavam-se a mãos alentejanas
que se rendiam fiéis ao seu desejo.

Ao render da tarde
o voo libido da cegonha
convidava ao cio da terra.
O húmus, submisso,
entregava-se à ternura da lâmina da enxada
e as dores, arrecadadas no silêncio da terra,
eram cicatrizadas com a saliva das papoilas.

Quando a noite se começava a desenfronhar
os pardais aninhavam-se no cimo do moinho
e rasgavam o silêncio teimoso da planície
que saciada, teimava em adormecer ao tacto da brisa.

Hoje é esteira de melancolia
onde os corvos grasnam sobre a aridez
e as rolas suspiram os seus gemidos.
Nas veias da febril planície
correm apenas versos tristes,
cantados em pranto
à boca de cada madrugada.

De garganta apertada
empresto o meu canto ao Alentejo
para escrever um poema
a ranger de recordações em forma de saudade.

Rita Carrapato





Alentejo das gentes castigadas,
Dos sobreiros reinando nas planuras
E das vozes dolentes, bem timbradas,
Que falam de alegrias, de amarguras…

Alentejo das searas espraiadas
Pl`o trigo inacabável das lonjuras,
Das casas pequeninas, bem caiadas,
Onde, à lareira, o povo queima agruras

Onde a gente se senta nos poiais
E esse tão-pouco nos parece mais
Do que o melhor que o mundo possa dar;

Vontade unida em vozes tão plurais
Faz-nos saber que não será demais
O que homens e mulheres não vão calar


Maria João Brito de Sousa






MODALIDADE POESIA (DÉCIMAS)

TITULO: AVIS É ALENTEJO

Mote:

Avis, és como um jardim
Semeado no cabeço;
Comprava-te só p’ra mim
Se soubesse qual o preço!

Ao subir por tantas ruas
Nunca me sinto cansado
Fico até extasiado
Com essas belezas tuas;
Lembram regos de charruas
Que se perdem sem ter fim
E ao ver-te tão linda assim
Eu dou comigo a pensar:
Se te posso comparar
Avis, és como um jardim!

Adivinham-se labores
Nas tuas casas baixinhas
Cheias de cal, tão velhinhas
Onde se abrigam pastores;
Camponeses, benfeitores
A quem rendo o meu apreço;
Mas é a ti que ofereço
O que faço de mais belo:
Os versos ao teu castelo
Semeado no cabeço!

Subo à Torre da Rainha
Desfruto a tua paisagem
E vou poisar na Barragem
Esta ansiedade minha;
Só de lá saio à tardinha
Quando o sol se põe, carmim;
Oiço o cantar do chapim
Que entoa por todo o lado,
Se tivesse outro ordenado
Comprava-te só p’ra mim!

Vejo campos de trigal
Dando vistas p’rá Figueira,
E p’rós lados da Ribeira
Eu vislumbro o Ervedal;
De beleza sem igual
Provando que não te esqueço
Eu compro, porque mereço,
Onde a vista se coloque:
…Eu comprava até S. Roque,
Se soubesse qual o preço!

Autor: FERNANDO MÁXIMO (AVIS)








PASSATEMPO "LEMBRANDO O ALENTEJO" - MODALIDADE FOTOGRAFIA

CABE HOJE APRESENTAR OS VENCEDORES DA MODALIDADE FOTOGRAFIA DO NOSSO PASSATEMPO "LEMBRANDO O ALENTEJO" :

JORGE CAMPANIÇO

LINO ROSA

LINO MARMELEIRO


O Júri teve de apreciar uma enorme quantidade de fotos, fruto duma excelente participação nesta modalidade.

Saudamos e agradecemos aos vencedores e a todos quantos connosco colaboraram.


Jorge Campaniço






Lino Rosa




Lino Marmeleiro







Prosseguimos a apresentação dos vencedores do Passatempo "LEMBRANDO O ALENTEJO", hoje na modalidade de Pintura com todas as condicionantes que um trabalho destes oferece de ser apreciado através de fotografia.

Na modalidade de PINTURA apresentamos:

MARIA ROSA CASQUINHA LAVADO com uma AGUARELA - e o título : RUA DE MONSARAZ.

PATICO com uma Técnica Mista sobre tela de 1,00 X 0,60 e o título SOB O TEU NOME ALENTEJO.


NÍDIA MAXIMO com uma pintura a óleo sobre tela e o título : RECANTO DA MINHA ALDEIA.


O Grupo ALENTEJANOS NO FACEBOOK agradece a colaboração de todos que colaboraram nesta modalidade. A nossa saudação.



Maria Rosa Casquinha Lavado - Rua de Monsaraz







Patico - Sob o teu nome Alentejo




Nídia Máximo - Recanto da Minha Aldeia






ALENTEJANOS NO FACEBOOK - PASSATEMPO "LEMBRANDO O ALENTEJO"

VIDEO DE OURO

O Júri decidiu, por unanimidade, atribuir o título de VIDEO DE OURO ao trabalho apresentado pelo Amigo ANTÓNIO CAEIRO a quem endereçamos os nossos parabéns e o agradecimento pela sua colaboração.

ALENTEJO


ALENTEJO






Continuamos a apresentar os primeiros classificados do nosso Passatempo "LEMBRANDO O ALENTEJO".

Hoje na modalidade VIDEOS temos NATALIA VALE - MARIA LUCILIA CAMPOS - ANA RITA PEREIRA.

O Grupo ALENTEJANOS NO FACEBOOK envia uma saudação muito especial a estas Amigas e um muito obrigado pela colaboração.

Nota: Espero que a colocação destes vídeos seja de molde a poderem ser vistos. Demorarão por certo mais tempo a abrir.

NATALIA VALE - ALENTEJO




MARIA LUCILIA CAMPOS - A FEIRA DO MONTE

A FEIRA DO MONTE


ANA RITA PEREIRA - LEMBRANDO O ALENTEJO

LEMBRANDO O ALENTEJO







Iniciamos hoje, 21 de Setembro, a publicação dos trabalhos apresentados pelos nossos Amigos, participantes do Passatempo "LEMBRANDO O ALENTEJO". Começamos pelo Artigo de Opinião vencedor desta modalidade. É seu Autor HERNÂNI MATOS a quem enviamos um abraço de parabéns.

NÓS OS SUBVERSIVOS DO FACEBOOK


Perfilho há muito a ideia de que é necessário estabelecer pontes de entendimento entre as pessoas. Cada
um de nós não está atomizado na sua individualidade, uma vez que a própria vida se encarrega de nos
integrar em múltiplos grupos com características diversas, nem sempre convergentes.
Alguns grupos são fechados, com códigos de conduta rígidos que a pretexto da pureza de princípios, os
incapacitam de dialogar com os restantes. Entre grupos fechados só são possíveis conversas de surdos, já
que como não se ouvem uns aos outros, não sabem o que os outros dizem.
Uma atitude distinta é cada um de nós e os grupos em que se insere, procurarem ouvir os outros para
perceber o que eles dizem, pensam e querem. Como retribuição podem ser ouvidos e os outros ficarão a
saber o que dizemos, pensamos e queremos. É possível então chegar à conclusão de que partilhamos
algumas ideias comuns, o que torna possível construir algo em conjunto, facto que introduzirá laços de
união entre nós. É a unidade na diversidade.
Com o tempo é possível que a área de partilha aumente, mas também é possível que não. Porém, ficámos
a saber o que os outros pensam e a respeitá-los porque nos respeitam a nós. E uma coisa é certa, a
partilha é só de coisas que nos unem, não de coisas que nos separam. Podemos com outros partilhar
amigos, se não todos, alguns. O que não somos é obrigados a partilhar os adversários. Isso é terreno que
não é partilhável.
Uma das muitas coisas que partilho com os outros é a escrita, instrumento de libertação do Homem. Filho
de alfaiate, aprendi a alinhavar palavras, que permitem cerzir ideias com que se propagam doutrinas. Esse
o sentido da minha intervenção na blogosfera.
Furiosamente independente, procuro ser sempre incisivo, cáustico quanto baste, mas sempre preciso.
Modéstia à parte, tenho formação dura de físico teórico e fui treinado para pensar.
Procuro levar tudo às últimas consequências e como atirador franco do pensamento e da acção, procuro
fazer o varrimento da transversalidade dos saberes.
Depois disso, a síntese dialéctica é um ovo de Colombo nascido no cú da galinha da minha cabeça.
É isso o rigor? Então que seja!
Que a minha galinha continue a pôr ovos, por muitos anos e bons.
E desses ovos faremos suculentas e perfumadas omeletas verbais, que regaladamente trincharemos,
sentados à mesa DO TEMPO DA OUTRA SENHORA, do CLUBE ROBINSON, dos ALENTEJANOS NO FACEBOOK,
dos AZULEJOS PORTUGUESES e noutras mesas mais, onde habitualmente abancamos, degustamos e
partilhamos saberes.
Nós somos os subversivos assumidos do Facebook, que apostámos forte em mudar a cara deste livro, o que
diariamente fazemos com determinação, audácia e comunhão.
Nós, operários da palavra, homens e mulheres deste país, velhos e novos, tradicionalistas e alternativos,
crentes e descrentes, de direita ou de esquerda, monárquicos ou republicanos, somos um paradigma do
que são as potencialidades de redes sociais como o Facebook.
Comunicamos uns com os outros e partilhamos ideias e pensamentos, feitos de palavras, imagens e sons.
Aprendemos a respeitar-nos uns aos outros e a ter em conta a opinião do interlocutor. E passamos a fazer
caminhadas comuns até onde é possível fazê-lo, de livre vontade e sem constrangimentos.
Talvez estejamos as lançar os alicerces dum mundo novo, nós os subversivos do Facebook.

Hernâni Matos







CERTIFICADO DE PARTICIPAÇÃO ENVIADO A TODOS QUE COLABORARAM NESTE EVENTO.










Hora
Quarta-feira, 31 de Agosto às 12:30 - 18/9 às 23:30
Local
GRUPO ALENTEJANOS NO FACEBOOK
Criado por
Luis Milhano
Para ALENTEJANOS NO FACEBOOK


ATÉ 18 de SETEMBRO CONTINUA O PASSATEMPO "LEMBRANDO O ALENTEJO".

AS MODALIDADES SÃO:

FOTOS - POESIA - PROSA - ARTIGO DE OPINIÃO - PINTURA - VÍDEOS - MÚSICAS -

Cada Participante poderá enviar um único trabalho por cada modalidade.

DEVERÁ ENVIAR OS SEUS TRABALHOS PARA O SEGUINTE ENDEREÇO:

alentejanosnofacebook@gmail.com

GRATOS PELA SUA PARTICIPAÇÃO.

Luis Milhano

sábado, 17 de setembro de 2011

CANTE - 751 FOLHAS DE PAUTAS MUSICAIS





ALENTEJO - SUAS TERRAS - SEU PATRIMÓNIO

Cante - 751 Folhas de Pautas Musicais
Por Jose Rabaça Gaspar · Última edição há 3 horas ·

http://www.joraga.net/gruposcorais/pags01_pautas_01_TSerpa/0000_pautasmusicais.htm -

ponho à disposição dos Mestres do CANTE e dos que dominam as novas técnicas para se digitalizarem Pautas Musicais em Áudio / Vídeo, 751 Folhas de Pautas, digitalizadas a partir de 11 Obras e Autores que se dedicaram ao Cante no Alentejo. Tratando-se de uma Música de origem Popular Tradicional, temos de reconhecer que é um Património notável... Aqui fica o meu contributo para a valorização deste impressionante Património Regional que é também Património Nacional e Planetário.

Com o meu abraço, o apelo para que este estudo e divulgação se possa desenvolver e progredir: José Rabaça Gaspar (joraga.net)

Lista das obras e autores:

01 - 63 Pautas- in TRADIÇÃO de SERPA, publicada entre Janeiro de 1899 e Junho de 1904;

02 - 89 Pautas - in Cancioneiro de musicas populares, por Cesar A. das Neves ; coord. a parte poetica por Gualdino de Campos ; pref. pelo Exmo Sr. Dr. Teophilo Braga. - V. 1, fasc. 1 (1893)-V. 3, fasc. n. 75 (1899). - Porto : Typ. Occidental, 1893-1899. - 33 cmTR;

03 - 51 Pautas - in subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo (Volume II) - Comentário, recolha e notas de Manuel Joaquim Delgado... 1980 (1ª ed. 1955);

04 - 10 Pautas - in A CANÇÃO POPULAR PORTUGIESA, de Fernando Lopes Graça, 2ª ed., Publicações Europa América, 1974;

05 - 31Pautas - in CANTARES DO POVO PORTUGUÊS, estudo crítico, recolha e comentário de RODNEY GALLOP, Instituto de Alta Cultura,2ª ED., Lisboa, MCMLX;

06 - 38 Pautas - in CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS, Michel Giacometti, com a colaboração de Fernando Lopes Graça, Círculo de Leitores, Lisboa, 1981;

07 - 25 Pautas - in Música Tradicional Portuguesa - Cantares do Baixo Alentejo, por J. Ranita da Nazaré, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura Portuguesa, Venda Nova Amdora, 1979;


08 - 125 Pautas - in Momentos Vocais do Baixo Alentejo- Cancioneiro da Tradição Oral, por João Ranita da Nazaré, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1986;

09 - 168 Pautas - in Cancioneiro de SERPA, de Maria Rita Ortigão Pinto Cortez, edição da Câmara Municipal de Serpa, 1994...;

10 - 133 Pautas - in ESTUDOS SOBRE O CANTE ALENTEJANO, de Padre António Marvão, Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores, 1997;

11 - 18 Pautas - in ALENTEJO 100 POR CENTO, de Prof. JOAQUIM ROQUE, 2ª Edição 1990, Peroguarda, Ferreira do Alentejo, com 196 páginas.

Abraço: joraga.net

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

ALANDROAL

FOTO DE PORTUGUESE_EYES


O Alandroal é uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Évora, região do Alentejo e sub-região do Alentejo Central, com cerca de 1 900 habitantes. Ergue-se a 341 m de altitude.
O Alandroal foi elevado à categoria de vila em 1486, por uma Carta de Foral atribuída por D. João II. A vila inclui apenas a freguesia de Nossa Senhora da Conceição.

O município

É sede de um município com 544,86 km² de área e 6 187 habitantes (2006),[1] subdividido em 6 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Vila Viçosa, a leste por Espanha, a sul por Mourão e por Reguengos de Monsaraz e a oeste pelo Redondo. Ao concelho do Alandroal foram anexados, no século XIX, os territórios dos antigos municípios de Terena e Juromenha.
A povoação de Villarreal, situada no município de Olivença (Espanha), era uma povoação do antigo concelho de Juromenha.
O próprio Alandroal é uma das três vilas do concelho, sendo as outras Terena e Juromenha.


População do concelho de Alandroal (1801 – 2004)
1801 1849 1900 1930 1960 1981 1991 2001 2004
1541 4651 7493 10444 12089 8124 7347 6585 6293

Freguesias

Nossa Senhora da Conceição
Capelins (Santo António)
Juromenha (Nossa Senhora do Loreto)
São Brás dos Matos (Mina do Bugalho)
Santiago Maior (Alandroal)
Terena (São Pedro)

Ilustres

Diogo Lopes de Sequeira (1465-1530), Governador da Índia (1518-1522)

Lista de património edificado em Alandroal:

A Fortaleza de Juromenha localiza-se na Freguesia de Nossa Senhora do Loreto, Concelho de Alandroal, Distrito de Évora, em Portugal. Entre a Guerra da Restauração e a Guerra Peninsular, sobre o rio Guadiana cuja travessia fechava, foi considerada uma das chaves da fronteira do Alentejo.


FOTO DE ANEVES

História

Antecedentes

Dominando este ponto de travessia do rio Guadiana, a ocupação de seu sítio remonta a galo-celtas e a Romanos. Ocupada mais tarde quando da Invasão muçulmana da Península Ibérica, à época da Reconquista cristã da península manteve-se por dois séculos como posto-avançado de defesa da importante cidade de Badajoz, desde o século X em mãos do Califado de Córdoba.

O castelo medieval

A povoação e o seu castelo foram conquistados desde 1167 pelas tropas do rei D. Afonso Henriques (1112-1185), auxiliado pelas forças do lendário Geraldo Sem Pavor. Como recompensa, o soberano nomeou este último como alcaide do castelo. Povoação e castelo retornariam às mãos dos muçulmanos, sob o comando do califa Almançor, em 1191, para serem definitivamente conquistadas por forças portuguesas, sob o comando de D. Paio Peres Correia, em 1242.
Objeto de preocupação do rei D. Dinis (1279-1325), este lhe incrementou o povoamento, concedendo-lhe Carta de Foral em 1312 e lhe promoveu importantes reforços nas defesas. Passou, assim, a contar com muralhas de taipa revestidas em cantaria de granito e ardósia, às quais se adossavam 16 torres quadrangulares, dominadas por uma imponente Torre de Menagem que se alçava a 44 m de altura. O seu foral seria confirmado no reinado de D. João II (1481-1495), a 28 de Agosto de 1492, e a povoação e seu castelo encontram-se figurados (lado norte) por Duarte de Armas no seu Livro das Fortalezas (c. 1509).



Erguido sob o reinado de D. Dinis (1279-1325), de acordo com a inscrição epigráfica sobre uma das portas, a sua primeira pedra foi lançada em 6 de Fevereiro de 1294 por D. Lourenço Afonso, Mestre da Ordem de Avis. Uma segunda inscrição, no alçado Oeste da Torre de Menagem (hoje integrado na Sala do Tesouro da Igreja Matriz), informa a conclusão de sua edificação, em 24 de Fevereiro de 1298, sendo Mestre da Ordem, o mesmo D. Lourenço Afonso. Uma terceira inscrição, no torreão à direita do portão principal, datada críticamente entre 1294 e 1298, refere o nome do seu construtor, que se identificou apenas como "Eu, Mouro Galvo".
O Alandroal foi elevado à condição de vila por Carta de Foral de 1486, outorgada por D. João II (1481-1495). Nessa qualidade, no reinado de seu sobrinho e sucessor, D. Manuel I (1495-1521), a vila e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas (Livro das Fortalezas, c. 1509).

Do século XVII aos nossos dias

Em 1606, a maior parte das construções no interior da cerca encontravam-se arruinadas. No século XVIII, o conjunto perdeu a sua barbacã, demolida para dar lugar, no interior dos muros, às edificações dos novos Paços do Concelho e da Cadeia da Comarca.
Considerado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910, apenas na década de 1940 se procederam a obras de consolidação e restauro, principalmente a reconstrução de alguns troços de muralhas e a desobstrução da estrutura de numerosas casas que, ao longo dos séculos, se haviam adossado às muralhas.

Características

Em estilo gótico, o castelo apresenta planta oval (na qual se inscreve um pequeno bairro intra-muros), reforçada por três torres de planta quadrangular, nos ângulos, e uma sólida Torre de Menagem adossada à cerca. O portão principal (Porta Legal) é ladeado por duas torres quadrangulares, ligeiramente avançadas (para permitir o tiro vertical sobre a entrada), ligados por uma cortina e encimadas por ameias de remate piramidal.
A Torre de Menagem, de planta quadrangular, divide-se internamente em três pavimentos. O acesso ao seu interior encontra-se, atualmente, entaipado. A esta torre, adossou-se, ainda no século XIII, a Igreja de Nossa Senhora da Graça, que alterada posteriormente, hoje apresenta traços renascentistas, patentes particularmente na abóbada artesoada. Em 1744, o terraço da Igreja foi aproveitado para edificar a Torre do Relógio.
Ao castelo, em posição dominante, associava-se a cerca da vila, de urbanismo muito simples, com uma única via (rua do Castelo) no sentido leste-oeste, flanqueada por duas portas. A principal, denominada Porta Legal, a leste, através da qual se acede ao adro da igreja, é constituída por um arco gótico com corredor, flanqueada por dois torreões quadrangulares ligados por cortina e encimados por ameias de remate piramidal. Parte daqui a única rua que atravessa a vila e que termina na chamada Porta do Arrabalde, a oeste, com seteiras em mármore e também flanqueada por uma torre, onde no seu pé-direito, no exterior, foi gravada a “vara”, medida padrão à época, para a aferição das medidas utilizadas no comércio local.
Os estudiosos apontam ainda, como marcas identificativas da formação cultural islâmica de seu construtor, além da epigrafia anteriormente citada, uma janela em forma de ferradura numa das torres e semelhanças entre o sistema de torres deste castelo e as muralhas almóadas de Sevilha.


A Praça-forte da Juromenha

Foi reforçado e ampliado à época da Guerra da Restauração da independência de Portugal, quando foi erguida a Fortaleza de Juromenha, com cuja história passa a se confundir.
O conjunto da fortaleza encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público por Decreto publicado em 18 de Julho de 1957.

FOTO DE ANEVES

A Guerra da Restauração

No contexto da Restauração da independência portuguesa, a partir de 1640, ante a iminência de uma invasão espanhola, impôs-se a completa reestruturação das fortificações fronteiriças de Portugal, adaptando-se as estruturas ainda medievais às exigências da artilharia da época. Diante da precariedade da defesa constituída pelo Castelo de Juromenha, que remontava à Idade Média, foram apresentados, em 1644, três diferentes planos para modernização desta defesa ao Conselho de Guerra do rei D. João IV (1640-1656):
o de autoria do engenheiro-militar e arquitecto italiano Pascoeli, descartado por oferecer uma proteção insuficiente;
o do jesuíta neerlandês Cosmander, que veio a ser eleito na ocasião, mesmo em face dos elevados custos e dificuldades técnicas;
o do francês Nicolau de Langres, que, em face da paralisação do projecto do seu antecessor, veio a ter este aprovado em 1646, assumindo as obras.

Com os trabalhos ainda em andamento, um incêndio fez saltar o paiol da pólvora (Janeiro de 1659), o que causou a destruição de parte expressiva das estruturas já edificadas e do antigo Paço Municipal. Uma centena de homens da guarnição (estudantes da Universidade de Elvas) e três mestres que os capitaneavam, perderam a vida na ocasião.
Passando-se para o serviço da Espanha, Langres comandou, em pessoa, a artilharia inimiga quando do ataque de 1662, capturando esta fortificação que ele mesmo construíra. Esta praça permaneceu ocupada por tropas espanholas até ao Tratado de Lisboa (13 de Fevereiro de 1668), quando retornou à posse da Coroa portuguesa.

Os séculos XVIII e XIX

A fortaleza sofreu severos danos com terramoto de 1755, tendo-lhe sido efetuadas obras de reparo e de ampliação, quando foi adossado um novo baluarte à muralha pelo lado do rio Guadiana, para defesa do ancoradouro.
No início do século XIX, no alvorecer da Guerra Peninsular, foi entregue, sem resistência pelo seu Governador, às tropas espanholas quando da chamada Guerra das Laranjas, para ser recuperada apenas em 1808.
Com a perda de sua função defensiva diante da evolução dos meios bélicos, entrou em decadência, até ao seu abandono em 1920.

Os dias de hoje

A partir de 1950 a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) iniciou-lhe extensas obras de consolidação e reparo, que se estenderam, com intervalos, até 1996.
Encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público através do Decreto nº 41.191, de 18 de Julho de 1957.
Em precário estado de conservação, encontram-se concluídos os trabalhos de prospecção arqueológica, encontrando-se pendente de aprovação um projeto de requalificação de suas dependências como instalação hoteleira, inscrito num programa mais vasto de turismo para a região, desde 2005.
Actualmente podem ser observados trechos de muralhas e de edificações representativos dos seus diversos períodos construtivos, onde às estruturas medievais se misturam os elementos arquitectónicos típicos das fortalezas abaluartadas.

Características

Fortificação do tipo misto, apresenta planta poligonal, composta por duas cinturas de muralhas, uma interna, onde se inscreve a antiga Torre de Menagem, e outra, externa, do tipo abaluartado no sistema de Vauban, onde se observa a presença dos diversos elementos deste tipo de fortificação: cortinas, revelins, fossos-secos, canhoneiras e outros.
Ao abrigo dos muros foram edificadas a Igreja Matriz e a Igreja da Misericórdia, bem como reedificado o antigo Paço do Concelho e cadeia. Uma cisterna de planta rectangular, abastecia a guarnição e os habitantes.


Pelourinho de Alandroal na freguesia de Nossa Senhora da Conceição

Foto do Blog ALANDROALANDIA


Igreja da Misericórdia




Azenha Grande de S. Brás dos Matos



CASTELO DE TERENA

FOTO DE PORTUGUESE_EYES

CAPELA DA BOA NOVA OU CAPELA DE NOSSA SENHORA DA BOA NOVA OU SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA ASSUNÇÃO DA BOA NOVA EM TERENA



História

Trata-se de um santuário mariano bastante antigo, julgando-se que possa resultar da cristianização de cultos pagãos, visto que nas imediações da vila de Terena subsistem as ruínas do templo do deus Endovélico. As referências históricas a este santuário remontam ao século XIII, uma vez que nas Cantigas de Santa Maria, do Rei Afonso X de Castela, existem algumas composições dedicadas a Santa Maria de Terena. O templo é obra do século XIV, possuíndo a característica de ser um raro exemplar português de igreja-fortaleza que chegou praticamente intacto aos nossos dias. A origem da invocação Senhora da Boa Nova parece estar ligada à lenda da Fermosíssima Maria (Dona Maria,Rainha de Castela), a filha do Rei D. Afonso IV de Portugal que se deslocou à corte portuguesa para solicitar a seu pai que auxiliasse o marido na Batalha do Salado. Reza a lenda que a Rainha se encontrava neste local, nas imediações de Terena, quando recebeu a boa notícia, daí tendo nascido a invocação Boa Nova. O culto mantém-se bastante vivo, sendo este santuário palco de uma grande romaria que se celebra no primeiro fim-de-semana posterior à Páscoa. A importância desta romaria na região é de tal importância que a Segunda-Feira de Pascoela (dia principal da festa) é o feriado municipal do concelho do Alandroal. O Santuário de Nossa Senhora da Boa Nova foi classificado Monumento Nacional em 1910.



Exterior do templo

O Santuário é uma jóia da arquitectura religiosa do século XIV, templo-fortaleza de planta cruciforme, rara em Portugal, construído em forte cantaria granítica, coroado e ameias muçulmanas. Nas fachadas norte, sul e poente, abrem-se pórticos de arcos ogivais, góticos e estreitas frestas medievais, encimados por balcões defensivos, com matacães (por onde se jorravam líquidos a ferver, em caso de ataque), decorados com pedras de armas reais portuguesas. O conjunto da fachada principal é ainda enobrecido por singelo campanário, acrescentado no século XVIII. O templo era originalmente do padroado da Ordem de Avis, teve depois como donatários os Condes de Vila Nova (de Portimão).

Interior






Contrastando com o aspecto pesado exterior, o interior surpreende-nos pela singeleza das linhas góticas e pelo aspecto amplo da nave, de planta de cruz grega, coberta por abóbadas de arcos quebrados. Os alçados da nave foram decorados no século XIX por rodapé escaiolado e pinturas murais realizadas pelo pintor Silva Rato, de Borba, representando santos da devoção popular alentejana. O púlpito, de alvenaria, é da mesma época e levanta-se volumoso no transepto da igreja. Os altares colaterais, de São Brás e Santa Catarina, são de talha dourada do século XVIII.
Mais interessante é a decoração do presbitério, cuja abóbada está coberta de pinturas fresquistas representando os reis da primeira dinastia até D.Afonso IV e diversas cenas do Apocalipse de São João, obra mandada fazer pelos Condes de Vila Nova, Comendadores da Ordem de Avis. O retábulo, maneirista, do século XVI, conserva entalhados belíssimas tábuas de estilo maneirista flamenguizante representando a Anunciação e Assunção da Virgem, o Presépio, o Pentecostes e a Ressurreição de Cristo. Ao centro, em maquineta dourada expõe-se a veneranda imagem de Nossa Senhora da Boa Nova, de roca, e com o Menino Jesus ao colo. Nesta capela se conservou acesa durante séculos a lâmpada votiva dos Duques de Bragança. Subsistem ainda no espaço algumas campas antigas e aras votivas do Deus Endonvélico, provenientes do templo de São Miguel da Mota, também na freguesia de Terena.


CASTRO DE CASTELO VELHO - TERENA

FOTO JOÃO PALMELA

PELOURINHO DE TERENA

O Pelourinho de Terena , símbolo do antigo poder municipal da vila, é uma obra do século XVI, reinado de D. João III.
É constituído por fuste e capitel de xisto, encimado por esfera marmórea. Fica situado na Rua Direita, junto à Torre do Relógio e à Igreja da Misericórdia.
Este pelourinho está classificado como Imóvel de Interesse Público, pelo IPPAR (Decreto 23122, DG 231 de 11 de outubro de 1933)





POVOADO FORTIFICADO E SANTUÁRIO DE ENDOVÉLICO



TERENA (SÃO PEDRO)



Terena é uma freguesia portuguesa do concelho do Alandroal, com 82,95 km² de área e 859 habitantes (2001). Densidade: 10,4 hab/km². A freguesia inclui esta localidade e Hortinhas. Tem o nome alternativo de São Pedro, sendo por vezes também conhecida como São Pedro de Terena.
Localizada no centro do concelho, a freguesia de Terena (São Pedro) tem por vizinhos as freguesias de Nossa Senhora da Conceição a nordeste, Capelins a sueste e Santiago Maior a sudoeste, e os concelhos do Redondo a oeste e de Vila Viçosa a norte.
É a 4ª freguesia do concelho em área, mas a 3ª em população e em densidade demográfica.
As origens da vila de Terena são muito antigas. O seu primeiro foral foi concedido no século XIII, sendo elaborado pelo Cavaleiro D. Gil Martins e sua mulher D. Maria João. Já no século XVI, em 10 de Outubro de 1514, o Rei D. Manuel I concedeu-lhe o Foral da leitura nova. A vila de Terena desempenhou um importante papel de defesa fronteiriça, através do seu castelo, que integrava a linha de defesa do Guadiana. No seu território desenvolveu-se desde tempos remotos o culto à Virgem Maria (possível fruto da cristianização de cultos pagãos), sendo o seu Santuário, hoje chamado da Boa Nova, já celebrado por Afonso X de Castela nas suas Cantigas de Santa Maria. O concelho de Terena, que abrangia as freguesias de Terena, Capelins e Santiago Maior, foi extinto em 1836, estando desde então integrado no concelho de Alandroal. O concelho tinha, de acordo com o recenseamento de 1801, 1 757 habitantes. Nos finais da década de 1970, foi construída nesta freguesia a Barragem do Lucefécit, que permitiu o desenvolvimento da agricultura de regadio nesta região. Nesta vila decorre anualmente, no Domingo e Segunda-Feira de Pascoela, a afamada e concorrida romaria de Nossa Senhora da Boa Nova.


BARRAGEM DO LUCEFÉCIT

FOTO DO BLOG TERENA

ANTIGOS PAÇOS DO CONCELHO DE TERENA




Os Antigos Paços do Concelho de Terena são um edifício histórico situados na vila de Terena, no concelho do Alandroal, distrito de Évora. Terena, que foi sede de concelho desde a Idade Média, possuíu certamente um anterior espaço destinado à sede do município, possivelmente no interior do castelo, mas o edifício actual data do século XVIII e fica situado na Rua Direita, junto à Igreja da Misericórdia e ao Pelourinho.
A fachada principal tem escada exterior (com corrimão e balaústre de mármore), com porta encimada pelo Escudo Real Português, também em mármore, do reinado de D.João V e duas janelas de sacada. No piso inferior funcionava o Celeiro Comum, estando o portão datado de 1882. Uma vez extinto o município de Terena (que era composto pelas freguesias de Terena, Santo António de Capelins e Santiago Maior), em 1836, o edifício (exceptuando o Celeiro Comum) foi cedido à irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Terena, que nele instalou o seu Hospital. No espaço de Celeiro Comum funcionaram, no século XX, a Junta de Freguesia de Terena e o Posto do Registo Civil da Freguesia. A Misericórdia (proprietária do imóvel) manteve o hospital aberto até à década de 1950, estando desde então o edifício encerrado, à espera de uma digna recuperação.



A TORRE DO RELÓGIO

FOTO DE ALENTEJANO

A Torre do Relógio da vila de Terena, concelho de Alandroal, fica situada na Rua Direita, junto ao pelourinho e à Igreja da Misericórdia.
O primitivo relógio da vila ficava situado na torre de menagem do castelo, mas ficou danificado pelo terramoto de 1755, conforme narração do Pároco nas Memórias Paroquiais de 1758. Por esse motivo, em data incerta da segunda metade do século XVIII foi construída a actual torre destinada ao relógio mecânico que durante séculos marcou as horas da vila de Terena.
A torre, de cúpula hemisférica com pináculos nos acrotérios, eleva-se alterosa por entre o casario envolvente. Possui dois sinos antigos, o maior, destinado às horas, tem a seguinte inscrição:
"FOI. FEITO. A. 1773. SENDO. VEREAD. VELLADA.ROQVE.GALEGO. PROCVRADOR.VEDIGAL.ESCRIV.O BENAZOL".
O mostrador, voltado a poente, é de mármore e tem numeração romana.

IGREJA MATRIZ DE SÃO PEDRO - TERENA



A Igreja Matriz de São Pedro, Paroquial de Terena fica situada num dos pontos mais elevados da vila, de cujo adro se desfruta amplo panorama. A igreja é muito antiga, já existia em 1394.
Segundo a tradição terá sido a segunda igreja paroquial da vila e sucedeu à primeira que era a igreja hoje conhecida por Santuário da Boa Nova.
Das origens, conservam-se as estátuas góticas do Padroeiro e de Santa Catarina Mártir, em mármore, expostas nos acrotérios da fachada principal. A Igreja Matriz foi depois alterada no século XVI, de cujo período são vestígios a ábside, de abóbada nervurada, coberta de azulejos do tipo maçaroca. No século XVIII foram executados o retábulo de talha dourada do altar-mor e o púlpito, em mármore. Neste período a igreja tinha quatro irmandades: Santíssimo Sacramento, Nossa Senhora do Rosário, São Miguel e Ordem Terceira de São Francisco). O Prior era apresentado pela Coroa e tinha dois clérigos Beneficiados. Já no século XIX foram feitas outras obras da igreja, que deram à nave o aspecto actual, realizando-se as pinturas da abóbada e do arco da Capela-Mor, tendo sido acrescentado o coro e remodelados o Baptistério, que conserva a Pia antiga, a Capela do Santíssimo Sacramento e o Altar da Senhora do Rosário, entre outras modificações de menor importância.
Na Sacristia conserva-se o trípico de pintura do século XVI representando São Pedro, São Paulo e Santo André, que se crê ter sido o primitivo retábulo do altar-mor.

IGREJA DA MISERICÓRDIA - TERENA

FOTO DE ALENTEJANO

A Igreja da Misericórdia, sede da irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Terena, fica situada na Rua Direita, no centro histórico da vila de Terena, concelho de Alandroal.
Embora não se conheça a data exacta da fundação da Misericórdia de Terena, sabe-se que deve ter ocorrido na segunda metade do século XVI, pois a abóbada da Capela-Mor da igreja é ainda do reinado de D.João III.
A fachada é muito simples, de empena triangular e portal marmóreo da segunda metade do século XVIII. O interior é de uma só nave, com coro lateral e púlpito de mármore. No alçado do lado do evangelho levantava-se a Galeria dos Mesários, de madeira entalhada. A capela-mor, de abóbada nervurada quinhentista, está revestida de pinturas murais do século XVIII, representando motivos florais. O retábulo é de talha dourada e marmoreada, decorada com as Armas Reais e os símbolos da Paixão de Cristo, expondo no Trono a imagem de roca do Senhor Jesus dos Passos.
Nos anexos da igreja situam-se as salas da Mesa e do consistório da Misericórdia. Presentemente a Misericórdia de Terena está sem actividade, encontrando-se a igreja muito arruinada e necessitando de restauro urgente.


CAPELA DE SANTO ANTÓNIO - TERENA




A Capela de Santo António fica situada no Rossio da vila de Terena, concelho de Alandroal.
A ermida, de linhas arquitectónicas simples e do estilo popular alentejano, com fachada simples e característico telhado de linhas radiadas, assinalada no terreiro fronteiro por cruzeiro popular. A sua construção deveu-se à iniciativa de um grupo de fiéis encabeçado por João Nunes Ribeiro, Cavaleiro da Ordem de Cristo, no ano de 1657. A nave, pequena e em forma de rotunda copular tem púlpito de mármore e ferro forjado. O altar é de talha dourada do século XVII, albergando as imagens de Santo António, São Bento e São Vicente Ferrer. Presentemente serve de capela funerária da vila de Terena.

ERMIDA DE SÃO SEBASTIÃO - TERENA

A ermida de São Sebastião é um monumento religioso situado na freguesia de Terena (São Pedro), concelho de Alandroal, distrito de Évora. A ermida ergue-se à saída da vila, à beira do caminho que leva ao célebre Santuário da Boa Nova. São desconhecidas as origens desta ermida, mas sabe que já existia no século XVI, pois figura na vista panorâmica que Duarte de Armas desenhou do castelo de Terena. Ao que tudo indica terá sido construída por iniciativa da câmara da vila, a exemplo do que se passou com muitas das suas congéneres ermidas de concelhos vizinhos, e dedicada a São Sebastião, o santo protector contra a fome, a peste e a guerra. Este monumento é um bom exemplar da arquitectura popular religiosa rural alentejana, sendo a sua fachada unicamente decorada pelo singelo campanário. O interior, igualmente simples, de uma só nave, tem apenas um altar, onde se veneram as imagens do padroeiro, de São Pedro e de São Bartolomeu. Em 1870 o espaço envolvente desta ermida foi aproveitado para a construção do cemitério público, em cujo portão foi colocada a seguinte inscrição destinada à meditação dos transeuntes: Detem caminhante o Passo/A Humana condição chora/Olha-te bem neste espelho/Vê o que és e vai-te embora.


FREGUESIA DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO - ALANDROAL



Área
- Total 156,60 km2
População (2001)
- Total 1 938
- Densidade 12,4/km2
Gentílico: alandroalense

Orago Nossa Senhora da Conceição

Nossa Senhora da Conceição é uma freguesia portuguesa do concelho do Alandroal, com 156,60 km² de área e 1 938 habitantes (2001). Densidade: 12,4 hab/km². Tem o nome alternativo de Alandroal e inclui esta vila e a aldeia do Rosário.
Localizada no centro do concelho, a freguesia de Nossa Senhora da Conceição tem por vizinhos as freguesias de São Brás dos Matos (Mina do Bugalho) a nordeste, Capelins (Santo António) a sul e Terena (São Pedro) a sudoeste, o concelho de Vila Viçosa a norte e a Espanha a leste.
É a maior freguesia do concelho em área mas apenas a segunda em população e em densidade demográfica.


FREGUESIA DE CAPELINS (SANTO ANTÓNIO)



Área
- Total 86,57 km2
População (2001)
- Total 673
- Densidade 7,8/km2

Orago Santo António

Capelins é uma freguesia portuguesa do concelho do Alandroal, com 86,57 km² de área e 673 habitantes (2001). Densidade: 7,8 hab/km². Tem o nome alternativo de Santo António, sendo que o nome oficial da freguesia é Capelins (Santo António).
Localizada na extremidade sueste do concelho, a freguesia de Capelins tem por vizinhos as freguesias de Santiago Maior a oeste, Terena a noroeste e Nossa Senhora da Conceição a norte, os municípios de Mourão a sueste e Reguengos de Monsaraz a sudoeste e a Espanha a leste.
É a 3ª freguesia do concelho em área, a 4ª em população e também a 4ª em densidade demográfica.
Esta freguesia pertenceu, até 1836, ao extinto concelho de Terena. Fazem parte desta freguesia os aglomerados populacionais de Ferreira de Capelins e Montes Juntos.


FREGUESIA DE JUROMENHA (NOSSA SENHORA DO LORETO)





Área
- Total 33,05 km2
População (2001)
- Total 146
- Densidade 4,4/km2
Orago Nossa Senhora do Loreto

Juromenha é uma freguesia portuguesa do concelho do Alandroal, com 33,05 km² de área e 146 habitantes (2001). Densidade: 4,4 hab/km². Tem o nome alternativo de Nossa Senhora do Loreto. Antigo concelho de Portugal extinto em 1836, tendo como freguesias: Matriz de Juromenha, São Brás dos Matos e Vila Real (esta última, desde 1815, de jure mas não de facto).


Localizada na extremidade nordeste do concelho, a freguesia de Juromenha tem por vizinhos a freguesia de São Brás dos Matos a sul e oeste, os municípios de Vila Viçosa a noroeste, Elvas a norte e o Território de Olivença a sueste. É a mais pequena (6ª) freguesia do concelho quer em área, quer em população, quer em densidade demográfica.

História

Juromenha foi sede de concelho, extinto cerca de 1836, sendo que dele faziam parte as freguesias de Juromenha e de São Brás dos Matos. Tinha, em 1801, 823 habitantes. Pertencia ao concelho e à freguesia de Juromenha a localidade de Vila Real (situada para lá do Guadiana, administrada desde 1801 por Espanha, integrando o município de Olivença).
São antigas as origens de Juromenha, que ocupou a honrosa função de sentinela do rio Guadiana, que corre a seus pés.
Foi conquistada aos mouros (então com o nome de Julumaniya, que por uma leitura imprópria do árabe foi transcrita por alguns historiadores como Chelmena) por D.Afonso Henriques, em 1167. Entrou depois nos domínios da Ordem de Avis, a quem foi doada pelo rei D.Sancho I. Nela decorreram alguns episódios importantes durante as guerras da Restauração (século XVII) e Peninsular (século XIX). Fez parte da diocese de Elvas até 1882, data em que a mesma foi extinta.
Após a sua anexação no concelho do Alandroal, Juromenha iniciou um processo de declínio, acentuado na década de 1920, quando a população abandonou totalmente o espaço intramuros, desenvolvendo-se o arrabalde em torno da ermida de Santo António, que é hoje o núcleo fundamental da vila.

Personalidades

António Gomes Freire de Andrade, nasceu em Juromenha em 1685 e faleceu no Rio de Janeiro em 1 de Janeiro de 1763; foi um nobre militar e administrador colonial português; primeiro conde de Bobadela (concelho de Oliveira do Hospital) por carta de 20 de Dezembro de 1758.

Património

Castelo de Juromenha e Fortaleza de Juromenha


FREGUESIA DE SÃO BRÁS DOS MATOS (MINA DO BUGALHO)


Área
- Total 72,66 km2
População (2001)
- Total 412
- Densidade 5,7/km2
Gentílico: mineiro

Orago São Brás

São Brás dos Matos ou Mina do Bugalho é uma freguesia portuguesa do concelho do Alandroal, com 72,66 km² de área e 412 habitantes (2001). Densidade: 5,7 hab/km².
Localizada a norte do concelho, a freguesia de São Brás dos Matos tem por vizinhos as freguesias de Nossa Senhora do Loreto a nordeste e de Nossa Senhora da Conceição a sul e oeste, o município de Vila Viçosa a norte e oeste e a Espanha a leste. É a quinta maior freguesia do concelho tanto em área como em população e em densidade demográfica. Até cerca de 1836 pertenceu ao extinto concelho de Juromenha. Esta freguesia é constituída por uma só aldeia (Mina do Bugalho)e um lugar(são Brás dos Matos). A aldeia que foi formada por causa das antigas minas. E o lugar onde se localiza a igreja paroquial, as casas paroquiais, o cemitério da freguesia, entre outras.
Esta terra chama-se Mina do Bugalho porque havia minérios, por isso se construíram minas.
Os mineiros moravam na herdade do Bugalho, construíram casas(primeiro a rua dos Quartéis) e formaram uma aldeia com o nome Mina do Bugalho.
Os minérios explorados eram a pirite, o cobre, o enxofre, o volfrâmio, a prata e ouro, mas estes havia em poucas quantidades.
O minério explorado servia para exportação e servia também para segurar as necessidades do país. Estes minérios deixaram de ser explorados há mais ou menos cem anos.
A parte antiga da aldeia situa-se num vale, donde se pode ver um imponente palacete, neste viviam os donos e engenheiros das minas. Esta parte antiga é formado por diversas ruas e largos, mas o largo principal(o centro da aldeia)o largo de São Brás onde se localiza o grandioso arco, ai se pesava o minério. No largo encontra-se também o actual prédio da junta de freguesia, antiga armazém do minério. No mesmo local está o monumento a São Brás, padroeiro da população. Nesse mesmo local localizam-se outros monumentos importantes.

Património

Arquitectura religiosa
Igreja Paroquial e Cruzeiro de S. Brás dos Matos
Igreja de Nossa Senhora de Fátima
Nicho de São Brás
Capela de Nossa Senhora da Graça(privado)

Relacionado com as minas

Arco de São Brás
Poços de minas
Monte do Palacete (privado)
Junta de Freguesia
Antigo Armazém do Minerio
Rua dos Quarteis


Do período neolítico
Anta do Pão Mole



Dólmen cuja câmara conserva 6 esteios de xisto e corredor com 5 esteios, sendo um dos monumentos megalíticos de maiores dimensões no concelho. Conjuntamente com a Anta dos Galvões, formam um conjunto de assinalável importância, cujo uso pode relacionar-se com as primeiras comunidades de metalurgistas que exploraram os veios de cobre na região da Mina do Bugalho. Datação: Neolítico final, IV milénio a.C.

Anta dos Galvões






Outros

Azenha Grande de São Brás



FREGUESIA DE SANTIAGO MAIOR - ALANDROAL

Área
- Total 113,02 km2
População (2001)
- Total 2 557
- Densidade 22,6/km2

Orago São Tiago

Santiago Maior é uma freguesia portuguesa do concelho do Alandroal, com 113,02 km² de área e 2 557 habitantes (2001). Densidade: 22,6 hab/km².
Localizada no sudoeste do concelho, a freguesia de Santiago Maior tem por vizinhos as freguesias de São Pedro a nordeste e Capelins a leste e os concelhos de Reguengos de Monsaraz a sul e Redondo a oeste.
É a segunda maior freguesia do concelho em área, mas a maior quer em população quer em densidade demográfica. Pertenceu, até 1836, ao extinto concelho de Terena. Fazem parte desta freguesia as localidades de Aldeia dos Marmelos, Aldeia das Pias, Aldeia da Venda, Orvalhos, Cabeça de Carneiro, Seixo e Casas Novas de Mares.