O CANTE ALENTEJANO - ENVIADO POR ISAURINDO SEMPÃO
Isaurindo Sempao Até onde remontam as origens de “cante”?
Como sabe, existem três vias para dar resposta a essa dúvida que nos surge sempre que queremos encontrar o momento, o local e o modo do surgimento do cante alentejano. Estudiosos da matéria apontam a génese do cante para a pratica coralista gregoriana, encontrando razões, pontos de convergência e similitudes que para eles são irrefutáveis. Outros, igualmente empenhados no estudo desta matéria, avançam como resposta a herança histórico-cultural legada pela presença árabe no nosso país e a sua abalada mais tardia do sul do país. Buscando e encontrando semelhanças, na forma de expressão vocal nossa e no cante mourisco….
Mas, outros há ainda que respondendo à mesma questão, negam ambas as explicações anteriores e apontam como fundamento da origem do cante alentejano a fixação pelas nossas gentes e a sua interpretação sistemática, de uma forma de polifonia onde se concentram e se exteriorizam os valores mais profundos da alma deste povo.
E quais as suas estruturas?
No seu início, o cante tinha como palco o campo. Foi uma necessidade sentida pelos trabalhadores para lhes aconchegar o espírito e lhes aliviar o corpo. Nasceu nas idas e nas vindas do trabalho e cultivou-se na dureza da azáfama.
O cante nasceu em função do trabalho, burilou-se na sua execução, passou a ser instrumento do mesmo.
Depois prolongou-se caminhos fora e entrou nas vilas e nas aldeias. Continuou-se nas tabernas, apareceu nas festas.
Mas a sua função principal não era animar os folguedos. Nasceu da necessidade dos trabalhadores inventarem um bálsamo para as suas dores tantas.
E o cante era isso, um grito que aliviava, um suspiro que tornava menos amarga a dureza da vida.
O cante colectivo, o som projectado por tanta garganta em uníssono, dava uma sensação de força maior, que se acrescentava à outra que a fraqueza ia vencendo, quer debaixo do sol escaldante, quer sob uma qualquer intempérie para a qual não havia abrigo de jeito.
No trabalho esforçado para além dos limites das posses individuais, valia assim a presença do coro colectivo que emprestava ânimo e ajudava, no seu cadenciado, a vencer mares de searas.
Tudo se formava e tudo se dissolvia na ida e com o regresso das labutas, onde homens, mulheres e crianças marchavam juntos durante quilómetros.
Era essa a escola, era essa a vida do cante.
Só mais tarde, a partir da década de trinta, dentro das vilas, é que os Grupos corais começaram a ter alguma consistência organizativa.
Em torno da figura de um bom cantador, começaram a esboçar-se os Grupos Corais que temos hoje. Com disciplina de posições, com organização e ensaios.
A mulher começa a aparecer no “cante”. A que se deve tal facto? A mulher também faz parte da tradição?
Como atrás dissemos, as mulheres estiveram na génese do cante, lado a lado com os homens. Ombreavam no trabalho e aí, podiam cantar e cantavam juntos.
Mas a sequencia, digamos que urbana do cante, privou, durante décadas, as mulheres de assumirem o seu papel como intérpretes de uma “moda” que também era sua.
Dado o seu estatuto Sócio-Cultural, não frequentavam os lugares onde o cante se prolongou depois de desaparecer dos campos, afastado pela mecanização da agricultura. Por isso, só por isso, durante tanto tempo se fez o silêncio nas gargantas femininas.
Mais tarde veio Abril e pouco a pouco foram-se abrindo os corações das mulheres para o cante, à medida que se iam também abrindo os horizontes dos seus direitos e as suas possibilidades de movimentação dentro do tecido social.
Dizem-me que o cante nunca cantou a política. E quais eram os temas cantados?
Antes de 74 o cante não podia abordar a temática política Algumas modas, porque as houve, mais ousadas eram proibidas e os seus interpretes castigados. Neste país, mesmo com fome não se podia gritar por pão. Mesmo tolhidos, não podiam clamar por liberdade. Assim, as modas, feitas e divulgadas nessa época, na sua generalidade, cantavam a vida, a contemplação, a nostalgia, o amor, a saudade, o trabalho, tinham uma função mais de expiação das mágoas do que de reivindicação de melhor sorte.
Logo a seguir ao 25 de Abril, o cante e os corais foram notoriamente instrumentalizados para “enfeitarem” manifestações e comícios e as letras das modas, por essa via, sofreram, como não podia deixar de ser, durante algum tempo as influências diretas do momento político efervescente, reivindicativo e até quase conspirativo da altura, como nas modas “morreu Catarina, era comunista” e “oh reforma agrária, eu sonhei contigo...”.
Mas depressa os Grupos retomaram o cancioneiro popular, continuando a cantar as modas que falavam da vida, da sua vida, do campo e da nostalgia de tempos idos, como na moda, “lembra-me o tempo passado, tudo se vai acabando, o boi puxando o arado e o almocreve cantando…”.
São muitos os grupos de cante que existem na cintura de Lisboa. Quer avaliar este fenómeno?
Com a diáspora, embora tardia, dos alentejanos para fora da sua terra, levaram consigo a crença pelo cante e a falta que do mesmo também sentiam. O cante era para eles uma espécie de colo onde se embalavam com as suas contrariedades para amenizarem o viver. Sem ele, mesmo longe, não podiam viver. Ainda por cima, se lhes acrescentou a saudade, fazedora de angústias.
Daí que por toda a Grande Lisboa, onde poisaram, deram seguimento ao seu sentir rural, e cantaram. Mas só cantando juntos surtia o efeito desejado. E assim nasceram, vários, muitos grupos corais, prenhes de ruralismo, em zonas eminentemente industriais.
Qual a influência, positiva ou negativa, do 25 de Abril no “cante”?
Julgamos que o 25 de Abril, libertando o povo de amarras e opressões, só podia ter influencia positiva em toda o seu existir. E o cante é uma expressão dessa mesma existência.
Todavia, com as influências da intromissão abusiva e não criteriosa da política activa nos corais, as coisas tremeram.
Lino Mendes
Colocado no Facebook Quarta-feira às 17:55
COMENTÁRIOS NO FACEBOOK:
Isaurindo Sempao espero que tenha contribuido para chegar-mos onde e como começou o cante alentejano, obrigado
Quarta-feira às 17:57
Luis Milhano Amigo Isaurindo, agradeço ter colaborado com o nosso Grupo. No entanto lembro que o texto de Lino Mendes também foi publicado nesta página.
Todos os contributos são importantes para estudarmos assuntos do nosso Alentejo.
Um abraço
Quarta-feira às 19:04
Muito bem explicado. Como amante do folclore Português mais ao norte, no Minho, não posso passar ao lado do cante alentejano recentemente elevado a Património Imaterial da UNESCO.
ResponderEliminarMuito obrigado Sr Sempão pela história deste cante que a Portugal pertence.
Bem haja
http://www.folclore-online.com/textos/lino_mendes/conversas6_1.html#.VlbOhOJe_A0
EliminarIsto de COPIAR DOS OUTROS e COLAR COMO AUTOR devia ser proibido. Assim também eu explico nem que seja sobre os cálculos da energia atómica que eu não percebo patavina.
ResponderEliminarAonde chega a coragem das pessoas
ResponderEliminarhttp://www.folclore-online.com/textos/lino_mendes/conversas6_1.html
Este texto está na internet com a origem noutro nome e autor.GRANDE IMPOSTOR este isaurindo sem pão e sem conciência a comentar com as obras de gente culta. Mas que falta de cultura a deste impostor.
ResponderEliminarSerá mesmo assim ? sendo assim é verdadeiramente um Grande ignorante e tenta passar uma mensagem em seu nome e de uma coisa que ele não tem ideia nem sabedoria para comentar tais assuntos.
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