segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
P E T I Ç Ã O - CANTE ALENTEJANO
Já está a correr a PETIÇÃO MANIFESTO CANTE ALENTEJANO A PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE.
PETIÇÃO - CANTE ALENTEJANO
Etiquetas:
Cante Alentejano
CANTE ALENTEJANO - MANIFESTO
MANIFESTO
CANTE ALENTEJANO A PATRIMÓNIO
1 - O Cante Alentejano é uma forma de expressão vocal, secularmente arreigada na nossa memória colectiva e tradicionalmente interpretada pelos habitantes de uma grande parte do imenso Alentejo, cuja melodia, forma e regras têm vindo a ser cautelosamente respeitadas e transmitidas de geração em geração.
2 - Guarda-se , por isso, activa e incólume, essa forma de cantar que impregna, como sua parte integrante e indissociável ,o imaginário e o ser espiritual do povo alentejano.
Na sua terra ou desterrados algures no mundo, os alentejanos revêem-se sentimentalmente nas suas “modas” e por isso, as cantam com paixão, quer na envolvência descontraída de um convívio, quer no aprumo dos Grupos Corais, onde, desde há muito se organizam, para cultivarem esta essência da sua tradição.
3 – Por insistência da “MODA- Associação do Cante Alentejano”, a quase totalidade dos concelhos do Alentejo e mais alguns da área da Grande Lisboa, classificaram o Cante como seu património oral e iniciaram também acções de apoio ao seu ensino, junto das escolas do ensino básico, buscando-se futuro para esta nossa herança do passado.
4 – Apesar da continuada aculturação de que somos alvo e do sistemático aviltamento das nossas raízes que desde há décadas nos mina a identidade cultural, o Cante Alentejano tem resistido ao seu tendencial apagamento e continua, apesar das múltiplas dificuldades, a impor-se, determinando o continuado aparecimento de novos Grupos Corais, em particular os femininos, que em si mesmos constituem um inegável e determinante factor de coesão social e cultural para as gentes transtaganas.
5 – Neste contexto, porque o Cante Alentejano constitui uma preciosa expressão de sentimento, alma e vida do nosso povo, cuja perda seria irreparável para nós e empobrecedora para toda a humanidade, vimos saudar e manifestar o nosso apoio à Candidatura do Cante Alentejano como Património Imaterial da Humanidade, de cuja aprovação resultará um justo reconhecimento por parte da UNESCO da grande valia etno-musical da “moda”, um novo alento para os actuais e futuros interpretes, assim como a garantia da necessária salvaguarda deste património de valor inestimável.
José Francisco Colaço Guerreiro
Luís Milhano
Etiquetas:
Cante Alentejano
sábado, 15 de outubro de 2011
VIANA DO ALENTEJO
Viana do Alentejo é uma vila portuguesa, no Distrito de Évora, região Alentejo e subregião do Alentejo Central, com cerca de 2 800 habitantes.
É sede de um município com 393,92 km² de área e 5615 habitantes (2001), subdividido em 3 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Montemor-o-Novo, a nordeste por Évora, a leste por Portel, a sueste por Cuba, a sul por Alvito e a sudoeste e oeste por Alcácer do Sal.
Outrora foi conhecida como Viana a par de Alvito.
Freguesias
As freguesias de Viana do Alentejo são as seguintes:
Aguiar
Alcáçovas
Viana do Alentejo
População
1801 – 1.298
1849 – 3.493
1900 – 5.065
1930 – 7.814
1960 – 9.237
1981 – 6.188
1991 – 5.720
2001 – 5.615
2004 – 5.639
Património
Castelo de Viana do Alentejo
Igreja Matriz de Viana do Alentejo
HISTÓRIA
É sede do concelho e uma vila de extraordinária importância na história de Portugal. Desempenhou sempre um papel de destaque na defesa estratégica do nosso território.
O povoamento é muito remoto. O arqueólogo José Leite de Vasconcelos, que estudou o local nos inícios deste século, descobriu uma série de vestígios arqueológicos, que poderão ser atribuídos à época romana. Restos de cerâmica, algumas moedas e mesmo uma necrópole romana com as respectivas inscrições nas cercanias do local onde se encontra hoje o santuário dedicado a N.ª Sr.ª d’Aires. Aliás, o próprio lugar de Paredes parece querer indicar que ali existiu algum tipo de muros, muito provavelmente castrejos. Alguns autores, são da opinião que este templo cristão sucedeu directamente a uma ermida do paganismo hispano-romano.
Devastada pelas algariadas mouriscas, a vila foi repovoada no século XIII por D. Gil Martins e sua mulher, D. Maria Anes. Em 1269, encontramos um documento sobre a vila, em que D. Martinho, Bispo de Évora, reconhecia ter direito apenas a um quarto dos dízimos da "igreja de Fochem". Por morte de D. Gil Martins e sua mulher, passou Viana do Alentejo para a posse do seu filho, D. Martim Gil de Sousa, Conde de Barcelos.
Foi no reinado de D. Afonso III que lhe foi concedida a primeira carta de foral, mais tarde renovada por D. Dinis (1321) com privilégios iguais aos de Santarém. Foi também D. Dinis que lançou as bases para a construção do seu castelo, iniciada em 1313, e a elevou à categoria de vila. Fazia parte do seu termo Alvito, Vila Nova, Vila Ruiva e Malcabron. Os seus moradores recebiam 1000 libras de ajuda para levantarem as muralhas. A extensão do termo de Viana durante o reinado de D. Dinis era muita significativa, já que ia até Vila Alva, na época Malcabron, que se encontra actualmente no concelho de Cuba.
NOSSA SENHORA D'AIRES
A romaria de Nossa Senhora d'Aires, em Viana do Alentejo, distrito e arquidiocese de Évora, remonta a 1748, quando se iniciou o culto mariano deste local situado nas imediações da vila de Viana do Alentejo. Tudo terá nascido de um voto feito por alguns comerciantes (devido a uma epidemia que então grassava na região). Uma vez atendido o voto, de imediato se iniciou a construção do imponente santuário que hoje é o palco desta romaria.
Feira de Nossa Senhora d'Aires
A romaria principal é mais propriamente uma feira, com origem no alvará de D.José, datado de 27 de Setembro de 1751, que autorizou a realização de uma feira franca nesta local. A feira/romaria ocorre no quarto domingo de Setembro, quando se faz uma pequena procissão com a imagem da Virgem em redor do templo (onde se encontram inúmeros ex-votos).
Romaria a cavalo
A romaria a cavalo tem como objectivo a recuperação de uma tradição abandonada há cerca de 70 anos, quando os lavradores e agricultores se deslocavam com os seus animais ao Santuário de N. Sra. d'Aires para pedir protecção para o gado e boas colheitas. A Romaria a Cavalo realiza-se, no quarto fim-de-semana de Abril, entre a Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita do Ribatejo, e o Santuário de Nossa Senhora D’Aires, em Viana do Alentejo. A romaria é realizada pela antiga canada real, conhecida, igualmente, pela estrada dos espanhóis e que perfaz um total de 120 km. Esta romaria tem um carácter religioso associado, sendo a Virgem transportada na romaria.
Na primeira edição, em 2001, a romaria contou com a participação de cerca de 200 romeiros.
Elementos recolhidos na Wikipédia
Etiquetas:
Alentejo,
Nossa Senhora d'Aires,
Viana do Alentejo
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
POESIA
(POESIA EM DÉCIMA. Para quem não sabe: estilo de poesia alentejana em que há um mote, e
um desenvolvimento em estâncias de dez versos em que o último vai reproduzindo cada um
dos versos do mote, pela sua ordem)
EM OLIVENÇA HOUVE FADOS
DÉCIMAS
Mote
Em Olivença houve fados/
na Rua dos Saboeiros;/
sentimos-nos recompensados/
entre tantos companheiros//
1
Dia vinte e dois de Julho/
do ano de dois mil e dez,/
entre cervejas e cafés/
lá findou todo o barulho./
E foi então, com orgulho/
que se escutaram os brados/
de músicas e dedilhados,/
porque nessa noite notável/
naquela artéria venerável/
EM OLIVENÇA HOUVE FADOS!//
2
Foram logo quatro fadistas/
que, com todos os seus dotes,/
desenvolveram os seus motes/
mostrando ser bons artistas./
Com expressões intimistas/
lá cantaram, altaneiros,/
de rostos sempre faceiros/
para quem os estava ouvindo/
em momentoas de gozo infindo/
NA RUA DOS SABOEIROS.//
3
Muito brilhou o Jorge Goes/
e também o João Ficalho;/
a Marlene foi o borralho/
com o calor dos seus bemóis/
que soaram como crisóis./
A Soraia fez agrados/
com seus belos trinados./
Depois de a todos ouvir/
com os corações a sorrir/
SENTIMOS-NOS RECOMPENSADOS.//
4
O Fado em casa se ouvia/
naquela noite tão morna;/
e da Pecorinha (*) à Corna (*)/
muita gente compreendia/
que uma nova era se abria./
Amanhãs mais verdadeiros,/
de mais indivíduos inteiros,/
no seu futuro mais crentes,/
oliventinos contentes/
ENTRE TANTOS COMPANHEIROS!
(*) Bairro de Olivença
Estremoz, 24 de Julho de 2010
Carlos Eduardo da Cruz Luna
Etiquetas:
Carlos Eduardo da Cruz Luna,
Poesia em décimas
OUGUELA
HISTÓRIA DE UMA ANTIGA VILA DO DISTRITO DE PORTALEGRE
HISTÓRIA DE OUGUELA
OUGUELA
-História e declínio de um Concelho-
Quem hoje se afasta de Campo Maior para norte, ou nordeste, encontra, a cerca de 10 quilómetros, uma povoação, Ouguela, de pouco mais de 60 habitantes. Um castelo de grandes dimensões, e que desde logo nos surpreende, domina a paisagem.
Trata-se de mais um caso de uma povoação que já teve alguma grandeza, e que conheceu um grande declínio, um pouco como sucedeu com Juromenha, e, em menor escala, com Terena, para já não falar de outras.
Algumas fontes antigas dizem que ali, existiu uma povoação romana chamada “Budua”, e que nos tempos visigodos, e até talvez árabes, se chamava Niguella. Não se sabe se há fundamentos para tais afirmações ou se estamos perante lendas.
Por volta de 1220 ou 1230, a região de Ouguela, bem como Campo maior, foi conquistada por leoneses. As duas localidades tornaram-se aldeias de Castela-Leão, com algumas situações de conflito sem grande importância, até que, em 1297, pelo tratado de Alcañices, passaram para Portugal, tal como, na região, Olivença (e Táliga). Ouguela (assim se passou a chamar) recebeu foral do mesmo tipo do de Évora, logo em 1298. Todavia, com Campo Maior e Olivença, dependeu do bispado de Badajoz até 1415. O castelo foi mandado reconstruir em 1300 (o que indica que já existia algo de fortificações no local, a não ser que se trate dum erro). Outras fontes indicam 1310, o que parece ser menos provável.
A importância de Ouguela, estava na sua posição estratégica, já que defendia um dos caminhos de entrada em Portugal, primeiramente conta Leão e Castela, depois contra a sua sucedânea Espanha.
Ouguela quase não é citada na crise de 1383-85, presumindo-se que terá sido anulada por Campo Maior, que se colocou do lado de Castela. Portanto, só terá regressado à coroa portuguesa entre 1348 e 1390. É muito possível que se tenham desenrolado combates na região, e que a população tenha sofrido com isso.
O seu castelo é várias vezes reforçado nos séculos XIV e XV, o que significa que mantinha a sua importância estratégica.
Em 1475, segundo a lenda e alguns documentos, ter-se-á travado um estranho combate singular entre João da Silva, alcaide-mor de Ouguela, e João Fernandes Galindo (Juan Fernández Galindo), alcaide-mor de Albuquerque (Espanha). Parece que um contigente castelhanho penetrara na vila. Ambos morreram dos ferimentos sofridos, tendo em 1551 Diogo da Silva, neto do alcaide-mor então falecido, a caminho do Concílio de Trento, mandado colocar no local de combate uma cruz comemorativa, hoje no museu de Elvas (Cruz de Galindo). Não se sabe o que haverá de fantasioso em tal episódio.
Em 1de Junho de 1512, Ouguela recebeu uma nova carta de foral (reinado de D. Manuel).
Claro que Ouguela, ou melhor, as suas gentes, terão participado na gesta dos descobrimentos iniciada no século XV, e terão vivido a decadência portuguesa da segunda metade do século XVI e do século XVII.
Em 1527, o numeramento (censo) de Portugal dava a Ouguela 144 fogos (cerca de 600 a 650 habitantes), ao lado de Campo Maior (cerca de 2900 habitantes), Alegrete (cerce de 1000 habitantes), Arronches (cerca de 3300 habitantes), Elvas (8900 habitantes), Olivença (4900 habitantes), Juromenha (600 habitantes), Terena (600 habitantes também), Vila Viçosa (3000 habitantes), Borba (3800 habitantes), Estremoz (4500 habitantes), Marvão (1700 habitantes), Monforte ( 2500 habitantes).
A guerra da restauração (1640-1668) levou novas agruras para a sua população. Datam dessa Época alguns troços de muralha com os primeiros trabalhos em 1647, mas que se estenderam pelo século XVIII.
Logo em 1642, Ouguela fora atacada, mas o exército espanhol não levara a melhor, conseguindo a vila resistir vitoriosamente. Um episódio semelhante ocorreu em 1644, mas aí os combates foram bem mais ferozes. A população resistiu com bravura, tendo várias lendas nascido na época.
Na memória popular ficou uma mulher, Isabel Pereira, que, segundo rezam documentos da época, se mostrou dotada de grande valentia, “quer pelejando nas trincheiras, [quer] repartindo pólvora e balas aos soldados; e retirada ao castelo ficou desacordada por algum espaço com a ferida que lhe deram, até que, tornando a si, e vendo que não era perigosa, prosseguiu a pelejar com maiores brios até ó fim”.
Em 1662, todavia, Ouguela rendeu-se sem resistência ao exército espanhol de D. João de Áustria. O capitão Domingos de Ataíde Mascarenhas, que deu a ordem de capitulação, foi depois severamente punido.
A paz de 1668 permitiu às terras raianas recomeçar a sarar as feridas, tanto do lado português como espanhol. Mas… novos conflitos se sucederam. Assim, em 1709 houve novas destruições em torno da vila, e em 1762 um rigoroso cerco, durante o qual o capitão Brás de Carvalho conseguiu resistir heroicamente.
Na obra “Corografia Portuguesa”, de 1708, de António Carvalho da Costa, tomo IF, duas páginas são dedicadas à vila de Ouguela; diz-se que a povoação tem mais de 700 habitantes, que o seu orago é Nossa Senhora da Graça, que tem casa da misericórdia na ermida do Espírito Santo. Mais, fala-se em ruínas antigas junto a uma ermida, são Salvador, a quatro quilómetros da vila, citada como tendo sido “Casa dos Templários”.
Diz-se ainda que Ouguela “é (…) abundante de pão, vinho, e gados, e [que] tem uma fonte com duas propriedades notáveis: uma, que toda a cousa viva, que se lhe lança dentro, morre logo, excepto rãs; e outra, que de maneira nenhuma coze carnes, nem legumes”. Mais, diz-se que a vila “tem dois juízes ordinários, vereadores, um procurador do concelho, um escrivão da câmara, um juiz órfãos com o seu escrivão, outro do judicial, e notas, e uma companhia de ordenança”. D. Pedro da Cunha, senhor de Tábua, é apontado como senhor de Ouguela.
A obra refere a lenda da igreja de Nossa senhora da Enxara, no caminho de Albuquerque, semelhante a tantas outras, nas quais uma divindade, ou uma estátua da mesma, indica o lugar onde se lhe deverá erguer um templo. Neste caso, é uma garota, e depois a sua mãe, que são escolhidas pela divindade. Descreve-se a imagem da Santa e opina-se que poderá ter origem visigótica. Refere-se que há muita devoção à mesma, e que pessoas de Campo Maior, e até de Castela, lhe pedem protecção, e visitam a Igreja.
É significativo, talvez, que não se refira a “lenda do tamborzinho”. Com as devidas reservas, tal poderá significar que esta, tão difundida em Ouguela, terá tido origem num facto ocorrido em 1709 ou em 1762. Dificilmente poderá ter tido lugar mais tarde.
A lenda diz que estando Ouguela cercada durante uma guerra (não se indica qual), e não sendo possível pedir socorro a Campo Maior, uma criança terá descido pela figueira que ainda hoje se vê junto á muralha, transportando uma bandeira e uma mensagem escrita, e talvez um tamborzinho com que costumava brincar. Não tendo levantado suspeitas no campo espanhol, ultrapassou as linhas inimigas e chegou a Campo Maior, entregando a mensagem no hospital. Diz-se que Ouguela terá tido um brazão inspirado nesta lenda, mas nada consta em documentos. Afinal, esta lenda reflecte a vivência de posto militar raiano das gentes de Ouguela.
Tudo isto terá influído no sentido de, em 1800, haver em Ouguela só 24 vizinhos “dentro” da vila e 20 fora (cerca de 200 habitantes, talvez). Em 1801, durante a Guerra das Laranjas, após a conquista de Olivença e Juromenha, Campo Maior rendeu-se ao exército espanhol, mas só depois de violento cerco e de muita resistência (15 de Junho). Ouguela não foi atacada, mas caída Campo Maior era um espinho nas costas do inimigo. 460 espanhóis, simulando um maior número pela disposição no terreno, aproximaram-se do castelo. O governador, Jóse Joaquim Queirós, acabou por entregar Ouguela ao atacante, já que não havia qualquer possibilidade de resistência (esta descrição encontra-se no Livro “A Guerra das Laranjas/A perda de Olivença”, de António Ventura, 2004, Ed. Prefácio).
Até 1811, decerto houve alguns conflitos em terras em redor de Ouguela, mas de pouca monta, pois quase nada chegou até nós. Os vários conflitos do início do século XIX pouco rasto deixaram na região.
A novidade seguinte, pouco alegre para a vila, é que em 1836 se extinguiu o concelho, sendo unido a Campo Maior. A decadência, que já vinha do século XVIII, reflectia-se a nível administrativo. E algo pior sucedeu, quando Ouguela deixou de ser freguesia e foi anexada a São João Baptista (Campo Maior) (1941).
É um pouco triste seguir esta história. Uma povoação nasceu e cresceu, teve momentos de alguma grandeza e de glória… e iniciou um processo de decadência.
Algumas quadras populares falam de Ouguela. Uma refere-se à sua grandeza:
Bela cidade de Ouguela
Dá vistas à lapagueira
Mal empregada cidade
Estar em tão alta ladeira
A lapagueira será um acidente geográfico.
Outra ironiza com a sua decadência, e, com algum sentido de humor, reza assim:
Adeus vila de Ouguela
Que não há vila mais nobre
Para teres vinte ruas
Faltam-te só dezanove
Assim é a roda da história. Olhando as velhas muralhas, a que não falta ainda opulência, sentimos-nos comovidos. Uma inscrição em latim, num dos arcos, informa-nos de uma divisa dos seus antigos defensores e moradores. “pro patria, pro rege et pro fide, aut vincere, aut mori” (pela pátria, pelo rei, e pela fé, vencer ou morrer).
O tempo é (mesmo) implacável.
Há, todavia, que pensar no futuro. Ouguela, hoje com apenas cerca de 60 habitantes, terá de procurar reerguer-se. O seu castelo, que já foi palco de filmagens de séries de televisão, tem uma beleza indesmentível. Há que ser-se imaginativo e ter força de vontade, e aproveitar tão vetusto monumento. Agora já não, porque felizmente tal não é necessário, como lugar de defesa, mas quiçá, como lugar de encontro, entre as raias alentejana e extremenha.
Que esta singela história da antiga vila, hoje “lugar”, de Ouguela, abra caminho nesse sentido, seja um primeiro passo, eis o meu sincero desejo.
Estremoz, 2 de Novembro de 2005
Carlos Eduardo da Cruz Luna
Etiquetas:
Carlos Eduardo da Cruz Luna,
Ouguela,
Portalegre
ELVAS
BREVE HISTÓRIA DE ELVAS
1) AS ORIGENS
Ergue-se a cidade de Elvas, uma das mais importantes de Portugal, a cerca de 70 Km. a Nordeste de Évora, 40 Km. a Leste de Estremoz, 9 Km. a Noroeste do Guadiana, e 12 Km. a Oeste de Badajoz.
Trata-se duma daquelas cidades cuja origem remota é bastante obscura. Isto, porque sendo abundantes os vestígios dae presença humana desde a Pré-História até à Época visigótica, os mesmos estão normalmente dispersos pela área do Concelho (antas ou dólmens, estátuas romanas de grande qualidade, e outros artefactos), não sendo possível saber se no local onde hoje se ergue a Urbe existiu ou não uma povoação antiga de razoáveis dimensões. Considerando o factor geográfico, é bem provável que sim. Contudo, as teorias, inúmeras, avançadas a esse respeito, nada produziram de realmente concreto... não passando mesmo algumas de invenções e piedosas fantasias.
Ao certo, sabemos que os Muçulmanos ali ergueram uma cidade, com uma fortaleza, a que chamaram Yalbas ou Yelch. Dependeu da Taifa de Batalyaws (Badajoz), independente durante algum tempo. Em 1166, D. Afonso Henriques conquistou-a, para logo ser perdida. E só no ano de 1226 os Cristãos se aproximaram de novo. Em 7 de Setembro de 1228, rendia-se a D. Sancho II. Logo Elvas (nome claramente derivado dos topónimos árabes) recebeu uma Carta de Foral (Maio de 1229). As muralhas foram em seguida e rapidamente reconstruídas, aproveitando a traça moura. É perfeitamente visível a herança arábica nas ruas mais antigas, e, na fortificação medieval, a mesma herança é por vezes impossível de separar da cristã.
2) INTEGRAÇÃO DEFINITIVA EM PORTUGAL E IDADE MÉDIA
Em 1228 ou 1230, Batalyaws (Badajoz) caía em posse do Reino de Leão. As duas cidades tomavam, quase ao mesmo tempo, o lugar por que mais ficaram conhecidas na História. Duas urbes fortificadas, vigiando-se e hostilizando-se, em tempo de guerra, e comerciando e fazendo o papel de porta de entrada de Portugal, de um lado, e de Leão, depois Castela, por fim Espanha, do outro, em tempo de paz.
A importância que Elvas teve desde o início está patente no facto de em 1262 nela se efectuar uma primeira Feira. D. Afonso III também beneficiou a cidade, em 1271, enquanto D. Dinis, em 1280, mandou fazer obras no seu Castelo.
Evidentemente, vários conflitos internos e algumas guerras com Castela se fizeram sentir ali.
Em 1383, era assinado em Elvas um Tratado pelo qual o rei D. Fernando casava a sua filha D. Beatriz com D. João de Castela. Como se sabe, tal casamento foi uma das causas da crise de 1383-1385. As cidades e vilas do Centro e Sul de Portugal, quase todas, e algumas do Norte, abraçaram a Revolução. Também o fez Elvas, vendo-se todavia rodeada, por algum tempo, por praças favoráveis a Beatriz e João de Castela (Campo Maior, Olivença, e Vila Viçosa), o que provocou muitos confrontos na Região. Gil Frenandes, ou Gil "Navalha", o alcaide, desembaraçou-se com habilidade e valentia, sendo por isso considerado um dos primeiros heróis de fama nacional dali oriundos. Abundam episódios sobre a sua vida, alguns dos quais seguramente míticos..
O Castelo tinha, ao tempo, 22 torres e 11 portas. Até pouco depois de 1390, portugueses e castelhanos defrontaram-se à sua beira e nos territórios próximos, fazendo incursões e destruindo com afã, dum e doutro lado, tudo o que podiam... provando, como se tal ainda fosse necessário, ser a guerra uma das actividades mais destrutivas, estéreis, e desumanas, já inventadas pelo Homem.
A Paz, definitiva, chegou em 1411, e, com ela, reatou-se um profícuo laço comercial entre Elvas e Badajoz.
3) ERA DOURADA
D. João II, que mandou proceder a obras nas praças fronteiriças, fez levantar no Castelo a Torre de Menagem, por volta de 1488, além de ordenar que se iniciasse a construção de uma barbacã, só terminada já no reinado de D. Manuel I. Aliás, o reinado de D. Manuel, e os seguintes, foram dos mais importantes para a História da Região. A Paz reinante ajudava a que se verificassem vários progressos, com poucos sobressaltos. Elvas e Olivença terão sido as povoações da Raia que mais beneficiaram com isso. Portugal, recorde-se estava no seu apogeu. Os Descobrimentos pareciam trazer riquezas sem fim. Em Elvas, foi construída a Igreja Matriz (Sé), alterada uns séculos depois, e foi remodelada a Igreja de São Domingos, que datava do Século XIV. Foi construída a Ponte da Ajuda entre Elvas e Olivença (talvez 1510-1520). E continuaram as obras do imponente Aqueduto da Amoreira, aliás já iniciadas no século XV, e que se prolongariam até ao Século XVII. No numeramento de 1527, Elvas surge como a quinta maior cidade portuguesa, atrás de Lisboa, Évora, Porto, e Santarém. Próximo, só Olivença, e, um pouco mais longe, Estremoz e Portalegre, podiam aspirar, remotamente, a com ela rivalizar. Olhando os números, sem dúvida que Elvas, com os seus cerca de 8 000 habitantes, se destacava no meio de Olivença ( 4 000 habitantes ), Estremoz ( 3 200 ), Vila Viçosa ( 3 000 ), Campo Maior ( 2 500 ), e Portalegre ( 6 000 ). A capital da província, Évora, andaria por volta dos 15 000 moradores.
Esta situação justifica o facto de pouco antes, em 21 de Abril de 1513, ter sido atribuída a Elvas a categoria de Cidade. E em 1570, surgiu nova promoção, ao ser transformada em sede de Bispado, com os territórios vizinhos do extinto Bispado de Ceuta ( Olivença, Campo Maior, Ouguela) e outros, retirados a Évora. Só em 1881 desapareceria esta dignidade, como se verá.
A época dos Descobrimentos viu inúmeros elvenses partirem para todos os cantos do mundo, tendo alguns ficado famosos. Entretanto, o Século XVI veria o País passar da prosperidade a uma crescente situação de crise.
4) CRISE E GUERRA
Em 1580, ao contrário do que sucedera em 1383, Elvas abriu as portas a Filipe II de Espanha, que nela ficou durante algum tempo antes de seguir para Lisboa. A propósito, assinale-se que, pela sua importância, a cidade foi recebendo visitas, algumas prolongadas, de vários soberanos, quase desde a sua integração em Portugal. Diga-se desde já que assim continuou a acontecer a partir de então.
A União das coroas de Portugal e Espanha num mesmo soberano beneficiou inicialmente Elvas, mas não tanto como se pensava ou desejava. E, à medida que os tempos corriam, surgiram situações de descontentamento, comuns a todo o País. Não foi por acaso que, em 1637, surgiu uma revolta de alguma importância. Curiosamente, durante essa revolta popular que passou à História com o nome de "Revolta do Manuelinho", pouca ou nenhuma agitação se viu em Elvas, o que parece ser estranho, dado que se produziram levantamentos em terras próximas (Olivença, Alandroal, Vila Viçosa, Borba, Cabeço de Vide, e outras). Parece que as classes dominantes em Elvas conseguiram prevenir problemas, e talvez os laços com Badajoz, de que a cidade muito dependia, o tenham evitado.
A verdade é que, no início de 1640, Elvas não parece ter reagido muito contra os impostos lançados por Olivares. Todavia, em Dezembro do mesmo ano, a notícia da separação de Portugal não provocou hostilidade, antes uma aceitação pacífica. E, logo no início de 1641 Elvas se armou com homens e material de guerra, e em 1642 iniciaram-se trabalhos acelerados de construção de uma nova cintura de fortificações, capaz de resistir à artilharia ( o chamado "estilo Vauban" ). Nasciam assim as modernas muralhas de Elvas, às quais mais tarde seriam acrescentados os fortes circundantes. Como a cidade dispunha já de uma poderosa muralha, em parte edificada nos tempos de D. Manuel I, foi possível, em alguns casos, uma reconversão. Todavia, a concepção era completamente nova, e muitas vezes os muros existentes serviram apenas de "pedreira" ao pé da porta para novas paredes. Também Estremoz e Olivença foram beneficiadas com muralhas semelhantes, bem como a mais pequena Juromenha. Campo Maior e Vila Viçosa efectuaram obras de vulto nos seus castelos medievais. Situações semelhantes ocorreram ao longo de toda a Raia, do Minho ao Algarve.
Em 1644, a Guerra chegou mesmo, sendo Elvas cercada inutilmente por algum tempo pelo exército espanhol. O quadro já descrito para 1383-1390 repetiu-se. Mais uma vez, exércitos dos dois lados em confronto se odiaram na fúria da Guerra, causando a morte e a destruição dos dois lados da fronteira. Eis o resultado e o triste preço a pagar pelas desastrosas políticas de governantes e classes dirigentes, ansiosos por aumentar os seus domínios e as suas riquezas sem olhar a meios, e esquecendo-se de procurar beneficiar as classes mais desfavorecidas. E, como em todas as guerras, era o povo simples, e quase sempre só ele, independentemente de raça ou língua, a pagar o preço das consequências desastrosas de tantas ambições e fracassos.
Graves confrontos, entretanto, se produziram em 1657. Olivença caíu, e muitos dos seus habitantes se refugiaram em Elvas, enquanto outros se distersavam por Juromenha, Alandroal, Vila Viçosa, e Estremoz. Elvas resistiu, mas ficou mais ameaçada no flanco sudeste.
5) O ANTIGO REGIME
O fim, todavia, estava próximo. A 14 de Janeiro de 1659 a batalha, dita "das Linhas de Elvas", destroçava uma poderosíssima invasão espanhola, e punha praticamente fim a qualquer esperança de Madrid de vir a conseguir recuperar Portugal. Ao lado das batalhas do Ameixial e de Montes Claros, este evento assinalou claramente o apogeu da guerra, mas também o seu final. É quase inútil dizer que correu sangue, muito sangue, naqueles campos de batalha. Não é sempre assim ? Por que será que não serve de lição ? A Paz de 1668 foi evidentemente bem vinda. As fronteiras na Península foram repostas como eram, regressando as populações aos seus lares, muitas vezes destroçados. Poder-se-ia agora voltar a comerciar e a contactar normalmente com o vizinho, procurando benefícios mútuos.
Infelizmente, o Alentejo e a Extremadura espanhola pouco tempo tiveram para sarar as suas feridas. Entre 1703 e 1713, a Guerra regressou. E Elvas, bem como Badajoz, foram de novo palco de confrontos. Em 1709, por exemplo, o exército espanhol do Marquês de Bay fazia ir pelos ares os arcos centrais da Ponte da Ajuda, talvez um pouco como vingança de em 1706 não ter conseguido entrar em Elvas.
Ficaram assim dificultadas as ligações entre as duas margens do Guadiana e entre as urbes irmãs até então. A paz veio, mas a reconstrução da Ponte foi sempre sendo adiada ao longo de todo o século XVIII.
Ninguém podia duvidar que Elvas era uma cidade militar. Por volta de 1750, quando surgiu nova ameaça de conflito, viviam nela 10 000 "civis" e 7 400 militares !
E, contudo, algo de negativo estava a surgir. Aparentemente, nada mudava, mas, na verdade, a importância relativa de Elvas no País ia decrescendo. Elvas crescia com o natural aumento demográfico geral, mas não mais do que isso. O litoral português começava a "adiantar-se em relação ao interior, ainda que isso na época passasse despercebido.Entretanto, Elvas era uma das capitais das cinco subdivisões administrativas maiores em que o Alentejo se subdividia desde o século XV. De Elvas dependiam os Concelhos de Ouguela, Campo Maior, Vila Boim, Barbacena, Vila Fernando, Juromenha, Olivença, Alandroal, Terena, Capelins, e Monsaraz. Quase toda a Raia, afinal. Note-se que este era um dos tipos de subdivisões existentes. Outras existiam, paralelas, com competências por vezes contraditórias, o que provocava muitas confusões. O Alandroal, por exemplo, "obedecia" a Elvas em determinados assuntos, mas dependia de Vila Viçosa para outros, e até de Avis para alguns outros.
6) A DIFÍCIL ENTRADA NO SÉCULO XIX
A Revolução Francesa ( 1789 ) teve reflexos mais ou menos profundos em Portugal e Espanha, principalmente pelo pavor que se apoderou das classes dirigentes e das Casas Reais. Para Portugal, a situação piorou principalmente quando a Espanha, esquecido pragmaticamente o pavor, entrou na órbita francesa (1795-1796). Em 1801, o exército espanhol sob o comando de Godoy, após a capitulação de Olivença, cerca Elvas. A cidade não se rendeu, mas Godoy arrancou junto às muralhas dois ramos de laranjas que enviou à Rainha de Espanha, gesto que deu o nome, irónico e jocoso, ao curto conflito: Guerra das Laranjas. Houve ainda tempo para, após duras lutas e uma resistência encarniçada, tomar Campo Maior.
A Paz, consagrada no Tratado de Badajoz, assinalou também, desde a sua assinatura, o surgimento de um litígio cuja resolução final ainda se aguarda, concretamente a questão da posse de Olivença. De qualquer forma, logo em 1807 recomeçava a Guerra. Invasores franceses, aliados aos espanhóis, ocuparam Portugal. Em Elvas estiveram até 1 de Outubro de 1808, seguindo para Lisboa para regressarem à Gália. A segunda invasão francesa em nada afectou Elvas, mas a terceira viu portugueses, ingleses, e espanhóis ( agora aliados ), lutarem, juntos para expulsar os invasores, nomeadamente nas regiões de Elvas e Badajoz, perseguindo-os até território francês (1813). Os acordos de Paris de 1814 e Viena de Àustria de 1815 pacificaram a Europa. Segundo Portugal, tais acordos implicariam a retrocessão de Olivença. Esta situação dúbia impediu, no mínimo, até aos nossos dias, que a velha Ponte da Ajuda fosse reconstruída, pois rodeiam-na delicadas questões diplomáticas. Apenas se conseguiu, depois de inúmeros contratempos, e só em 2000 (11 de Novembro) construir uma nova a cem metros das ruínas da antiga, o que significou o abrir de novos horizontes, mas não levou à resolução do litígio nascido na época napoleónica.
Em 1820, Portugal conheceu o primeiro esboço de Democracia. Mas, poucos anos decorridos, voltou a vigorar o tradicional regime absolutista. Foi necessária uma dolorosa guerra civil (1832-1834) para se entrar na modernidade. Como os últimos episódios dessa guerra decorreram no Alentejo, Elvas foi por isso algo afectada.
7) NOVOS TEMPOS
Muitas mudanças se produziram então. Eram novos tempos. Por exemplo, muitos edifícios religiosos, principalmente conventos, passaram para as mãos do Estado, que neles instalou serviços seus ( Câmara Municipal, Hospital, Tribunais, etc.). Por outro lado, Elvas viu o seu concelho ser engrandecido com a anexação de vários antigos concelhos vizinhos extintos: Vila Boim, Barbacene, Vila Fernando, e Terrugem. Ainda afectou Elvas a nova divisão administradtiva de 1835, que dividiu o Alentejo em três distritos. O mais setentrional abrangeu Elvas, mas a sua sede acabou por ser colocada em Portalegre, perdendo a primeira importância administrativa. Ainda hoje os elvenses tendem a afastar-se da área de influência de Portalegre, quase parecendo esquecer-se que dela dependem...
A Regeneração, em 1851, veio por fim a alguns conflitos que, por mais de uma vez, afectaram os primeiros tempos do Regime Liberal, e que tiveram algum eco, por vezes, em Elvas.
É na segunda metade do século XIX que se constrói a ponte luso-espanhola sobre o Caia. Mais tarde, surgiria o comboio,e a ligação a Badajoz. Todavia, em 1881, era extinto o Bispado, e Elvas passou a depender eclesiasticamente de Évora. Afinal, confirmava-se o que começara a ser vagamente perceptível no século XVIII: o peso relativo de Elvas ia diminuindo.
Claro que Elvas se viu afectada pelas convulsões da Primeira República (1910-1926), mas este regime, demasiado concentrado em Lisboa, não convidou a uma participação muito activa das povoações do Interior. Pior seria a Centralização do Regime que se seguiu (Ditadura e Salazarismo, ou Estado Novo), que só findaria com o regresso à Democracia em 25 de Abril de 1974.
Não se pode deixar de assinalar que a desigualdade da distribuição da riqueza e as injustiças sociais a ela associadas caracterizaram a sociedade elvense, bem como a alentejana em geral, nos séculos XIX e XX. Não que não existissem antes, claro, mas porque uma maior liberdade de expressão, uma crescente consciencialização de tal realidade, e as necessidades económicas, tornaram mais evidente esta situação. Tudo isto, associado a um relativamente fraco desenvolvimento das forças produtivas e a uma insuficiente inovação tecnológica, foi-se revelando prejudicial a um verdadeiro desenvolvimento, muito menos de forma harmoniosa para a sociedade em geral.
8) O SÉCULO XX
Claro que a cidade não ficou parada. Foi alastrando mesmo para fora das muralhas, e no século XX um plano de urbanização, concluído em 1986, procurou que tal ocorresse de forma ordenada.
A Guerra Civil de Espanha (1936-1939) deixou igualmente as suas marcas em Elvas, por vezes de uma forma, digamos, "personalizada". Parte das elites, apavorada com uma eventual ameaça comunista, pactuou, com o apoio do Governo Central, com as forças repressivas franquistas, ajudando a enviar refugiados para Badajoz, onde foram quase todos fusilados. Outros extractos da população, bem como parte das elites, procurou auxiliar e esconder muitos pacenses que procuravam salvar a vida saindo de Badajoz ou arredores e entrando em Portugal. Porque este tema é delicado, falta fazer a sua História.
As décadas de 1950 e 1960, apesar das barreiras alfandegárias e de dificuldades pontuais, viram intensificarem-se as relações entre Elvas e Badajoz. Inclusivamente com o recurso, também tradicional, ao contrabando. Inicialmente, era o lado português que dispunha de vantagens económicas e de maior poder de compra, mas a partir das décadas de 1970 e 1980 a situação foi-se invertendo.
Aliás, ao longo dos séculos XIX e XX (neste, principalmente), Badajoz, durante séculos comparável a Elvas, e pontualmente com menos população, cresceu de forma assinalável, sendo hoje quatro ou cinco vezes maior do que a sua vizinha, o que criou alguns complexos de inferioridade.
A população de Elvas também foi crescendo, mas lentamente, até à década de 1960, quando começou a verificar-se a situação inversa. Apesar da actividade comercial, muito ligada a Badajoz e à Espanha em geral, ocupar muita gente, revelou-se, na verdade, e continua a revelar-se, insuficiente para, por si só, contrariar essa tendência. No início do Segundo Milénio, o Concelho de Elvas tinha cerca de 23 800 habitantyes, cerca de 18 000 só na cidade.
Recorde-se aqui um episódio de valor simbólico: em 11 de Novembro de 2000, foi inaugurada uma nova ponte enttre Elvas e Olivença, o que, como já se disse, deverá ter aberto novos horizontes. Trata-se de procurar caminhos para o futuro, não abdicando de princípios.
9) REFLEXÕES FINAIS
Alguns dos problemas actuais de Elvas são os de Portugal no seu conjunto. O interior do País tende a desertificar-se, perdendo peso. Com isso, torna-se menos atractivo. Não há investimento produtivo porque, entre outras coisas, não há mercado consumidor. Não havendo produção, não há nada para consumir. É um ciclo fechado. Como se tal não bastasse, o Poder Central vai incentivando, ou nada faz para o evitar, o encerramento de serviços. Ainda recentemente circularam notícias nesse sentido ( Quartel, Maternidade ), o que acentua a idéia de declínio e aumente a sensação de inferioridade.
Os responsáveis elvenses, melhor ou pior, têm feito o possível e o impossível para sair deste círculo vicioso. Mas... muita coisa há que mudar em Portugal no seu todo para que se atenuem e combatam as muitas assimetrias que subsistem.
Apesar de tudo, dispõe-se de um bem precioso. A Paz. E Elvas sempre prosperou, às vezes nem tanto como seria desejável, num tal clima. Relacionando-se, por exemplo, amigavelmente com os seus vizinhos do Leste. Há que aproveitar projectos que, num clima de respeito mútuo e de igualdade, beneficiem todos os envolvidos.
Elvas herdou uma arquitectura invejável e quase única. As suas muralhas "estilo Vauban", intactas, fazem dela, e mesmo que fosse só por isso, um monumento sem par. São inúmeras as construções grandiosas, religiosas ou não, que por detrás delas se abrigam, algumas mesmo fora delas. As velhas ruas populares, com o seu traçado mourisco, constituem outro tesouro histórico.
Tudo isto, herança do passado, tem imenso valor no presente, e é um factor inigualável de valorização da cidade. Claro que o futuro passará por inúmeros factores, necessariamente inovadores, mas este dado adquirido, bem aproveitado, é desdfe já uma vantagem.
Este texto, porque limitado no espaço, não pormenorizou inúmeros outros aspectops importantes da História de Elvas. Claro que existem muitos mais monumentos do que os poucos referidos, e não se referiram inúmeras personalidades de relevo nascidas na cidade ao longo dos séculos. Pretendeu-se, apenas, dar uma idéia geral e breve da História do Burgo elvense, que desperte em quem o leia a curiosidade de saber mais e, claro, o desejo de o visitar.
Estremoz, 22 de Fevereiro de 2006
Carlos Eduardo da Cruz Luna
Etiquetas:
Carlos Eduardo da Cruz Luna,
Elvas
Subscrever:
Mensagens (Atom)